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Hoje por Pedro Santos Guerreiro
Diretor Executivo
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12 de Fevereiro de 2015 |
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“Falidos mas livres” (mas não ainda)
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Quem acompanha processos europeus complexos está
habituado a reuniões decisivas que não decidem, adiam. Faz parte da
negociação – e da encenação? – entre estados membros e assim foi ontem à
noite, no “encontro do tudo ou nada” entre ministros das Finanças que
não foi nem tudo nem foi nada. O destino da Grécia na zona euro fica adiado para segunda-feira. A notícia da noite foi: não houve acordo sequer quanto a um comunicado conjunto.
A falta de acordo até para fechar um comunicado é mais do que o símbolo do fracasso da reunião. Segundo conta o Financial Times,
o ministro das Finanças Varoufakis informou os presentes de que estava
de acordo com a publicação de um comunicado conjunto, mas terá sido
desautorizado pelo seu primeiro-ministro quando telefonou para Atenas. Eva Gaspar, no Negócios,
diz que a reunião não cumpriu sequer os mínimos: "um acordo sobre o
método e o calendário a seguir para tentar alcançar um entendimento
concreto".
Yanis Varoufakis, que entrou como estrela da noite, fotografado entre os
demais com um sorriso largo, recusava à saída em falar de derrota:
“Foi-me dada uma oportunidade maravilhosa para apresentar a nossa visão,
as nossas análises e as nossas propostas.” Para já, a maior pressão está na forma de assegurar o financiamento da Grécia até setembro.
O encontro até começara bem, com Lagarde e Varoufakis a darem a mão e a trocarem piropos, numa inesperada demonstração de ternura para as fotografias que quebrou o gelo. “Ele chegou de blazer e calças pretas”, ensaiou Luciano Alvarez no Público,
“ela esperava-o toda de preto e de cabedal”, e assim a reunião do
Eurogrupo começou “de forma fofinha entre ele e ela. Com ambos rendidos
um ao outro, perdidos entre sorrisos e olhares cúmplices.”
A questão não é se a reunião foi “fofinha”, é perceber se o ambiente institucional em torno da Grécia aperta ou distende. Hoje, Alexis Tsipras estará na sua primeira cimeira europeia,
com a Grécia na maior indefinição. Tsipras e Varoufakis têm forte apoio
popular na Grécia, o que ainda ontem se viu, numa manifestação contra
as políticas de austeridade que juntou 15 mil na praça Syntagma, em
Atenas, empunhando cartazes com palavras de ordem como “Falidos mas livres” ou “Um sopro de dignidade”.
E Portugal? Frase puramente opinativa: Portugal está na posição mais cínica: ao lado da Alemanha desejando que a Grécia vença. Hoje, numa carta dirigida ao primeiro-ministro, um conjunto economistas, políticos, cientistas e outras personalidades apelam a Passos Coelho que mude de posição em relação à Grécia.
Os subscritores têm como base os dinamizadores do Manifesto dos 74 que
propôs a renegociação da dívida, mas alargam o apoio a outras
personalidades. Portugal, note-se, foi o quarto país do mundo que mais aumentou a sua dívida
entre 2007 e o segundo trimestre de 2014, de 258% para 358% do PIB.
Isso mesmo, 385% em dívida acumulada (Estado, empresas e famílias),
segundo um estudo da McKinsey noticiado no Negócios.
Até à segunda, querida Grécia. Até depois, Portugal.
Até quando, Ucrânia?
Noutra maratona negocial, os líderes da Ucrânia, Rússia, França e Alemanha estiveram fechados numa cimeira da paz em Minsk
visando uma solução que ponha termo ao conflito em solo ucraniano. O
objetivo de conseguir um acordo de cessar-fogo não está ainda
conseguido. Mas a agência de notícias estatal russa Ria Novosti, citada
pela CNN, noticiou durante a madrugada em Lisboa que será assinado um acordo de dez pontos, que prevê a retirada de artilharia pesada e a criação de uma zona desmilitarizada. Um acordo de cessar-fogo pode ainda ser conseguido nas próximas 48 horas. Fumo branco?
OUTRAS NOTÍCIASHá dois assuntos que estão em metade das primeiras páginas de hoje nas bancas. O segundo tema fica para o fim; o primeiro é manchete no Jornal de Notícias, no Económico e no Público: a proposta do governo de que as
autarquias possam reduzir o horário de trabalho para 35 horas semanais
fica sujeita à condição de as câmaras terem as contas em dia. Na verdade, essa é uma de sete condições, que o Negócios lista. O assunto dura há ano e meio.
Em quatro anos, 12 mil automobilistas foram avisados de que se tivessem mais um incidente ficariam sem carta de condução. Mas apenas 41 ficaram sem ela. Grande parte dos processos prescreveu. A notícia faz hoje manchete do Diário de Notícias.
Francesco Schettino, o comandante do Costa Concordia, navio que naufragou em janeiro de 2012 matando 32 pessoas, foi condenado a 16 anos de cadeia. Schettino não assistiu à leitura da sentença. De acordo com o seu advogado, "estava com febre".
A Caixa Geral de Depósitos teve prejuízos de €348 milhões em 2014. Uma redução face a 2013 mas mesmo assim quase um milhão por dia. Tudo por causa de créditos do passado que não são pagos, o que obrigou a provisões e imparidades de quase mil milhões.
O Benfica é o primeiro finalista da Taça da Liga, depois de vencer o Setúbal por 3-0 na Luz.
O Bloco de Esquerda e PS admitem chamar ao Parlamento uma investigação sobre os casos portugueses do processo Swiss Leaks, que lista 220 clientes portugueses. Por causa da revolta levantada pelo escândalo, que revelou contas no HSBC da Suíça que facilitavam a fuga aos impostos e a ocultação de ativos (se quiser saber como, o Expresso Diário explica), o Henrique Monteiro aqui escreveu
que é preciso separar a fuga do fisco do julgamento moral da riqueza,
“como se quem fosse rico tenha de ser necessariamente suspeito”. Na China os julgamentos são outros: o magnata mineiro Liu Han, que era o 148º chinês mais rico, foi executado depois de ser condenado por crime organizado.
A concessão de vistos gold caiu a pique, noticia o Negócios. Em Janeiro foram atribuídos 78, “menos de metade dos emitidos em Novembro, quando rebentou o escândalo de corrupção neste programa.”
Obama pediu autorização ao Congresso norte-americano para autorizar a utilização de forças militares contra o auto-denominado Estado Islâmico (Daesh), num plano a três anos. A notícia há de ter muitos desenvolvimentos...
FRASES“Portugal,
um país que passou também por dificuldades, emprestou à Grécia cerca de
1.100 milhões de euros e agora está a transferir muitos milhões que são
tirados dos bolsos dos contribuintes”. Cavaco Silva, ontem aos jornalistas.
“São declarações que procuram humilhar - por contrapartida de um
comportamento do Governo português que o Presidente da República procura
todos os dias elogiar - o povo grego e o Governo grego”. Carlos César, respondendo a Cavaco.
“Intenções da Altice são positivas para Portugal”, diz o ministro da Economia, Pires de Lima. A PT começará já por reduzir o número de administradores, noticia o Económico.
“Eu não teria cortado relações com o Benfica", Filipe Soares Franco, sobre a decisão do Sporting do fim de semana, citado no DN.
“Plantem vegetais extensivamente em estufas!” é um dos novos 310 slogans oficiais da Coreia do Norte, agora revelados.
O QUE EU ANDO A LERNão
li nem ando a ler “As 50 sombras de Grey”, cuja adaptação a filme tem
sido arrasado pela crítica, que o apelida de coisas como “pornografia para mamãs”, embora muitos escrevam que, em comparação com o livro, lhe falta sexo.
Mas pronto, a coisa estreia hoje em todo mundo, com mais de 40 mil
bilhetes já vendidos em Portugal, e a histeria está em todo o lado.
Inclusive em quase todas as primeiras páginas de hoje dos jornais – esse
era o segundo tema reincidente de que lhe falei.
Recomendo-lhe outra leitura, a partir das 18 horas. Se ontem a notícia
foi de que o Aeroporto da Portela pode vir a chamar-se Humberto Delgado,
(a notícia pode ser lida por exemplo aqui),
o facto são os 50 anos sobre a sua morte. Esta tarde, no Expresso
Diário (que pode ler assinando ou usando o código da revista E de sábado
passado), vamos republicar nos Ficheiros Expresso uma entrevista histórica de 1998 a Rosa Casaco,
que chefiou a brigada da PIDE que assassinou o general Humberto Delgado
a 13 de Fevereiro de 1965, perto de Badajoz. “Como matámos Humberto
Delgado”
E pronto, amanhã aqui estará o Martim Silva, que veremos se conseguirá
escrever no Dia dos Namorados sem esbanjar recomendações pirosas ou, vá
lá, alimentar a epidemia de graçolas com “As 50 Sombras de Grey” que se
leem em jornais por todo o mundo.
Até depois? Até já, Portugal. No site do Expresso e no Diário às 18 horas.
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