segunda-feira, 22 de junho de 2015

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Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto
Nicolau Santos
Por Nicolau Santos
Diretor-Adjunto
 
22 de Junho de 2015
 
A Europa está mesmo a discutir com a Grécia por causa de um quarto do BPN?
 

Bom dia e digam-me que eu estou enganado: a Europa está a fazer um braço-de-ferro com a Grécia por causa de menos de um quarto do que os portugueses estão a pagar com língua de palmo devido à falência fraudulenta do BPN?

Com efeito, se é como escreve Jorge Nascimento Rodrigues, no Expresso Diário, citando o semanário financeiro helénico «Agora», ou seja, que as instituições internacionais e o governo de Atenas estão separados por 910 milhões de euros (quando a 14 de junho a divergência era de dois mil milhões de euros), então os deuses devem estar loucos.

Como é possível que os donos do circo estejam dispostos a deixar arder a tenda por causa de um valor destes? Como é possível a escalada de afirmações na semana passada, envolvendo Christine Lagarde, Jean-Claude Juncker, Wolfgang Schauble e Donald Tusk, de um lado, e Alexis Tsipras e Yanis Varoufakis, do outro?

Como perguntava Hélia Correia, Prémio Camões 2015, num texto publicado no jornal Público, em 17 de Janeiro de 2014, a propósito da situação portuguesa: « Estamos a pagar o quê, porquê? Em que momento é que prevaricámos? Foi a comprar mais um televisor, foi a escolhermos uma sala com lareira? Nós aprendemos, no devido tempo, que não podemos alegar ignorância da lei se a violámos, mas havia uma lei contra o conforto? Havia alguma lei que proibisse os filhos de viverem como tinham vivido os patrões dos seus pais? Devo dizer aqui que o consumismo me desperta uma viva repugnância, que admiro e sigo, porque quero, a vida “austera”. Mas, porque eu ando de transportes públicos, entenderei que a compra de um automóvel deve entregar o cidadão ao agiota? Estou a falar de pequeninas coisas, de minúsculas coisas que não chegam para lançar uma pessoa no inferno. O grande gasto, o gasto vil, onde se oculta?

Bom, mas como o relógio não para e o bom senso parece estar a aterrar devagarinho na mesa do Conselho Europeu extraordinário desta segunda-feira, às sete da noite, ontem o governo de [xpresso.sapo.pt/economia/2015-06-21-Tsipras-ja-apresentou-nova-proposta-aos-lideres-europeus]Atenas fez chegar uma nova proposta a Angela Merkel, François Hollande e Jean-Claude Juncker, que Alexis Tsipras considera «uma solução definitiva» e «benéfica» para todos. Veremos se os donos do circo concordam ou se preferem deixar a tenda arder.

Os quatro terão falado várias vezes ao telefone e, do que se sabe, a distância entre as partes encurtou para 0,5% do PIB grego (até agora eram 0,9%). A proposta grega assenta no fim das reformas antecipadas a partir de 2016; uma taxa sobre empresas com lucros acima de 500 mil euros e uma “taxa de solidariedade” sobre rendimentos acima de 30 mil euros.

Atenas admite ainda subir para a taxa máxima do IVA alguns produtos alimentares e hotéis e novo corte das pensões mais altas, se a contrapartida for um alívio na dívida grega. Mas Atenas recusa a subida de dez pontos do IVA sobre a eletricidade.

E já se sabe que o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, se reúnem hoje antes da cimeira extraordinária para discutir uma solução para a Grécia.

Entretanto, o primeiro-ministro italiano foi o primeiro a manifestar publicamente o seu otimismo. Matteo Renzi disse ontem que estão reunidas todas as condições para que a Grécia e os seus credores internacionais alcancem um acordo benéfico para ambas as partes, pondo fim à crise da dívida grega.

Mas também o chefe de gabinete de Juncker, Martin Selmayr, se manifestou otimista numa mensagem através do Twitter: “É um bom ponto de partida para o encontro do Eurogrupo”.

OUTRAS NOTÍCIAS

Cá dentro,
- Relvas diz que salvou municípios. A pressão da "troika" para deixar os municípios em Portugal declararem falência como a cidade norte-americana de Detroit foi ultrapassada com a reforma da administração local, revelam Miguel Relvas e Paulo Júlio, no livro " O Outro Lado da Governação".

- Chineses da Fosun dizem que Portugal é o melhor país da Europa para comprar empresas. Depois da Fidelidade e da Luz Saúde e estando na corrida ao Novo Banco, a Fosun olha também para a possibilidade de investir no turismo, no setor alimentar e mesmo na comunicação social

- O Mestrado em Finanças da Nova SBE é o 19º melhor do mundo para o Financial Times

- Ontem chegou o Verão e foi o dia mais longo do ano. Em Inglaterra cerca de 23 mil pessoas reuniram-se junto ao monumento megalítico de Stonehenge, para assinalar o solstício de verão. Mas por cá as temperaturas desceram.

 LÁ FORA,
-No Brasil, o clima económico está mesmo a mudar. O crescimento puxado pelo consumo chegou ao fim e os despedimentos tornam-se uma realidade em todas as regiões do país. No plano político, a presidente Dilma tem uma taxa de rejeição de 65%. Pior mesmo só Collor de Mello, que chegou aos 68%.

- Na Índia, o primeiro-ministro Narendra Modi usa o yoga para afirmar a «marca Índia» a nível global. Ontem juntou-se a 36.000 pessoas que celebraram em Nova Deli o primeiro dia internacional de yoga, que promoveu junto da ONU.

- Em França, o operador de telecomunicações francês SFR, da Altice, ofereceu 10 mil milhões de euros pela subsidiária de comunicações do grupo francês Bouygues. A concretizar-se o negócio, o número de operadoras móveis no país é reduzido de quatro para três e o novo grupo combinado superará a Orange em termos de assinantes.

- Em Israel, o grupo chinês Fosun, que detém em Portugal a Fidelidade e a Luz Saúde, vai comprar 52% da companhia de seguros israelita Phoenix ao Delek Group. Trata-se da quarta maior seguradora israelita por capitalização bolsista.

- Os duros também choram. José Mourinho disse que chorou quando o tenista britânico Andy Murray conquistou o torneio de Wimbledon, terceira prova do Grand Slam da temporada. "Tenho de dizer que deixei cair um par de lágrimas pelo Andy, quando ele ganhou Wimbledon. Foi algo que, obviamente, significou mais do que qualquer outra coisa na carreira dele. Consigo imaginar que foi algo de outro mundo".

- Este ano Frank Sinatra, A Voz, faria 100 anos se fosse vivo. O centenário só acontece lá mais para dezembro, mas o arraial já começou: exposição, documentário, colóquio, musical, novos discos e até um restaurante (!) são o tiro de partida

FRASES
“O programa de estágios do Governo é uma máquina de abuso e de exploração. Serve para que as empresas usem e descartem estagiários uns atrás de outros”, Catarina Martins, porta-voz do Bloco de Esquerda, na sessão de encerramento da Convenção Nacional do partido

"O compromisso que nós conseguimos fazer, porque os quatro anos o demonstram e porque não aderimos a cenários como aqueles que acontecem na Grécia, é que connosco o Estado não vai falir "Adolfo Mesquita Nunes, secretário de Estado do Turismo, no encerramento de uma conferência em Viseu, promovida pela coligação

“A almofada de liquidez que foi construída pelo Tesouro português, coloca-nos numa situação em que não há risco para qualquer pagamento que tenhamos de fazer até meados de 2016", Pedro Passos Coelho, em entrevista à Reuters

“Marinho e Pinto é um homem perigoso para a democracia”, Eurico Figueiredo,presidente do PDR, ao i

“Portugal cumpriu e merece ser apoiado”, Guo Guangchang, presidente da Fosun, ao Diário Económico.

NÚMEROS
5000 – É o número de empresas portuguesas que dependem a 100% de Angola para exportar. São 56% das exportadoras nacionais.

300 – milhões. É quanto o Estado vai poupar com as subconcessões do Metro, Carris e CP, diz o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro

Sete – o número de mortos em acidentes de autocarro no Algarve na semana passada. E durante esta madrugada um carro caiu ao Tejo, desconhecendo-se ainda se há vítimas.

Quatro – o número de pontos que a seleção de sub-21 de futebol já conquistou no Europeu, após ter empatado ontem com a Itália. Agora só falta um empate com a Suécia para estar presente no torneio olímpico do Rio de Janeiro, em 2016

O QUE EU ANDO A LER E A OUVIR
Ondjaki é, sem qualquer dúvida, um dos vultos que emergiu na nova geração de criadores angolanos. Já com créditos firmados no panorama literário daquele país, confirmado com os vários prémios nacionais e internacionais que tem vindo a acumular, para além da tradução da sua obra em pelo menos oito línguas, Ondjaki venceu em 2013 o Prémio José Saramago com Os Transparentes. É um retrato notável da atual sociedade luandense, que mostra as diversas Luandas que convivem em São Paolo de Assumpção de Loanda, fundada a 25 de janeiro de 1576 pelo navegador português Paulo Dias de Novais. Dos ministros que enriquecem ao carteiro que só quer uma motorizada para poder trabalhar; da vida num prédio, daqueles que foram ocupados no pós-independência e em que nada funciona – o elevador, a eletricidade, a água – aos restaurantes de luxo frequentados pela rica elite nacional; dos que adoram ostentar o novo carro, o relógio de ouro, as joias aos que vivem como se fossem fantasmas, que ninguém nota – os tais transparentes – Ondjaki compõe um retrato da Luanda atual ao mesmo tempo terno e crítico, ao mesmo tempo real e onírico de uma das capitais mais bonitas de África.

Quanto a música: se já chegou aquela idade em que o jazz se tornou para si como um excelente vinho tinto, então tem de comprar e ouvir Absence, de Carlos Martins, um CD «calmo» como ele me disse quando o encontrei recentemente num supermercado. Mas é muito mais que isso. Em primeiro lugar, é «uma dedicatória de amor ao Bernardo Sassetti e ao seu inspirador talento como homem e artista» (com efeito, Sassetti não só esteve desde o início no projeto, como toca numa das faixas); depois porque é o regresso de Carlos Martins, após um longo período de ausência e de ter andado por outras paragens musicais; finalmente, porque Carlos Martins é seguramente um dos grandes e mais inovadores músicos portugueses.

Por hoje é tudo,
Ao final da tarde temos Expresso Diário. 
Amanhã quem tira o Expresso Curto é o Pedro Santos Guerreiro, com o seu estilo acutilante e o seu português inconfundível.

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