Bom dia e digam-me que eu estou enganado: a Europa está a fazer um braço-de-ferro com a Grécia por causa de menos de um quarto do que os portugueses estão a pagar com língua de palmo devido à falência fraudulenta do BPN?
Como é possível que os donos do circo estejam dispostos a deixar arder a tenda por causa de um valor destes?
Como é possível a escalada de afirmações na semana passada, envolvendo
Christine Lagarde, Jean-Claude Juncker, Wolfgang Schauble e Donald Tusk,
de um lado, e Alexis Tsipras e Yanis Varoufakis, do outro?
Como perguntava Hélia Correia, Prémio Camões 2015, num texto publicado no jornal Público, em 17 de Janeiro de 2014, a propósito da situação portuguesa: « Estamos a pagar o quê, porquê?
Em que momento é que prevaricámos? Foi a comprar mais um televisor, foi
a escolhermos uma sala com lareira? Nós aprendemos, no devido tempo,
que não podemos alegar ignorância da lei se a violámos, mas havia uma lei contra o conforto?
Havia alguma lei que proibisse os filhos de viverem como tinham vivido
os patrões dos seus pais? Devo dizer aqui que o consumismo me desperta
uma viva repugnância, que admiro e sigo, porque quero, a vida “austera”.
Mas, porque eu ando de transportes públicos, entenderei que a compra de
um automóvel deve entregar o cidadão ao agiota? Estou a falar de
pequeninas coisas, de minúsculas coisas que não chegam para lançar uma
pessoa no inferno. O grande gasto, o gasto vil, onde se oculta?
Bom, mas como o relógio não para e o bom senso parece estar a aterrar
devagarinho na mesa do Conselho Europeu extraordinário desta
segunda-feira, às sete da noite, ontem o governo de
[xpresso.sapo.pt/economia/2015-06-21-Tsipras-ja-apresentou-nova-proposta-aos-lideres-europeus]Atenas
fez chegar uma nova proposta a Angela Merkel, François Hollande e
Jean-Claude Juncker, que Alexis Tsipras considera «uma solução definitiva» e «benéfica» para todos. Veremos se os donos do circo concordam ou se preferem deixar a tenda arder.
Os quatro terão falado várias vezes ao telefone e, do que se sabe, a distância entre as partes encurtou para 0,5% do PIB grego (até agora eram 0,9%). A proposta grega assenta no fim das reformas antecipadas a partir de 2016; uma taxa sobre empresas com lucros acima de 500 mil euros e uma “taxa de solidariedade” sobre rendimentos acima de 30 mil euros.
Atenas admite ainda subir para a taxa máxima do IVA alguns produtos alimentares e hotéis e novo corte das pensões mais altas, se a contrapartida for um alívio na dívida grega. Mas Atenas recusa a subida de dez pontos do IVA sobre a eletricidade.
Entretanto, o primeiro-ministro italiano foi o primeiro a manifestar publicamente o seu otimismo. Matteo Renzi disse ontem que estão reunidas todas as condições para que a Grécia e os seus credores internacionais alcancem um acordo benéfico para ambas as partes, pondo fim à crise da dívida grega.
Mas também o chefe de gabinete de Juncker, Martin Selmayr, se manifestou otimista numa mensagem através do Twitter: “É um bom ponto de partida para o encontro do Eurogrupo”.
OUTRAS NOTÍCIAS
Cá dentro,
- Relvas diz que salvou municípios. A pressão da "troika" para
deixar os municípios em Portugal declararem falência como a cidade
norte-americana de Detroit foi ultrapassada com a reforma da
administração local, revelam Miguel Relvas e Paulo Júlio, no livro " O Outro Lado da Governação".
- Chineses da Fosun dizem que Portugal é o melhor país da Europa para comprar empresas.
Depois da Fidelidade e da Luz Saúde e estando na corrida ao Novo Banco,
a Fosun olha também para a possibilidade de investir no turismo, no
setor alimentar e mesmo na comunicação social
- O Mestrado em Finanças da Nova SBE é o 19º melhor do mundo para o Financial Times
- Ontem chegou o Verão e foi o dia mais longo do ano. Em Inglaterra cerca de 23 mil pessoas reuniram-se junto ao monumento megalítico de Stonehenge, para assinalar o solstício de verão. Mas por cá as temperaturas desceram.
LÁ FORA,
- Na Índia,
o primeiro-ministro Narendra Modi usa o yoga para afirmar a «marca
Índia» a nível global. Ontem juntou-se a 36.000 pessoas que celebraram
em Nova Deli o primeiro dia internacional de yoga, que promoveu junto da
ONU.
- Em França, o operador de telecomunicações francês SFR, da Altice,
ofereceu 10 mil milhões de euros pela subsidiária de comunicações do
grupo francês Bouygues. A concretizar-se o negócio, o número de
operadoras móveis no país é reduzido de quatro para três e o novo grupo
combinado superará a Orange em termos de assinantes.
- Em Israel, o grupo chinês Fosun,
que detém em Portugal a Fidelidade e a Luz Saúde, vai comprar 52% da
companhia de seguros israelita Phoenix ao Delek Group. Trata-se da
quarta maior seguradora israelita por capitalização bolsista.
- Os duros também choram. José Mourinho disse que chorou
quando o tenista britânico Andy Murray conquistou o torneio de
Wimbledon, terceira prova do Grand Slam da temporada. "Tenho de dizer
que deixei cair um par de lágrimas pelo Andy, quando ele ganhou
Wimbledon. Foi algo que, obviamente, significou mais do que qualquer
outra coisa na carreira dele. Consigo imaginar que foi algo de outro
mundo".
- Este ano Frank Sinatra, A Voz, faria 100 anos se fosse vivo. O centenário só acontece lá mais para dezembro, mas o arraial já começou: exposição, documentário, colóquio, musical, novos discos e até um restaurante (!) são o tiro de partida
FRASES
“A
almofada de liquidez que foi construída pelo Tesouro português,
coloca-nos numa situação em que não há risco para qualquer pagamento que
tenhamos de fazer até meados de 2016", Pedro Passos Coelho, em entrevista à Reuters
“Marinho e Pinto é um homem perigoso para a democracia”, Eurico Figueiredo,presidente do PDR, ao i
“Portugal cumpriu e merece ser apoiado”, Guo Guangchang, presidente da Fosun, ao Diário Económico.
NÚMEROS
5000 – É o número de empresas portuguesas que dependem a 100% de Angola para exportar. São 56% das exportadoras nacionais.
300 – milhões. É quanto o Estado vai poupar com as subconcessões do Metro, Carris e CP, diz o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro
Sete – o número de mortos em acidentes de autocarro no Algarve na semana passada. E durante esta madrugada um carro caiu ao Tejo, desconhecendo-se ainda se há vítimas.
Quatro
– o número de pontos que a seleção de sub-21 de futebol já conquistou
no Europeu, após ter empatado ontem com a Itália. Agora só falta um
empate com a Suécia para estar presente no torneio olímpico do Rio de
Janeiro, em 2016
O QUE EU ANDO A LER E A OUVIR
Ondjaki
é, sem qualquer dúvida, um dos vultos que emergiu na nova geração de
criadores angolanos. Já com créditos firmados no panorama literário
daquele país, confirmado com os vários prémios nacionais e
internacionais que tem vindo a acumular, para além da tradução da sua
obra em pelo menos oito línguas, Ondjaki venceu em 2013 o Prémio José Saramago com Os Transparentes.
É um retrato notável da atual sociedade luandense, que mostra as
diversas Luandas que convivem em São Paolo de Assumpção de Loanda,
fundada a 25 de janeiro de 1576 pelo navegador português Paulo Dias de
Novais. Dos ministros que enriquecem ao carteiro que só quer uma
motorizada para poder trabalhar; da vida num prédio, daqueles que foram
ocupados no pós-independência e em que nada funciona – o elevador, a
eletricidade, a água – aos restaurantes de luxo frequentados pela rica
elite nacional; dos que adoram ostentar o novo carro, o relógio de ouro,
as joias aos que vivem como se fossem fantasmas, que ninguém nota – os
tais transparentes – Ondjaki compõe um retrato da Luanda atual ao mesmo tempo terno e crítico, ao mesmo tempo real e onírico de uma das capitais mais bonitas de África.
Quanto a música: se já chegou aquela idade em que o jazz se tornou para
si como um excelente vinho tinto, então tem de comprar e ouvir Absence, de Carlos Martins,
um CD «calmo» como ele me disse quando o encontrei recentemente num
supermercado. Mas é muito mais que isso. Em primeiro lugar, é «uma
dedicatória de amor ao Bernardo Sassetti e ao seu inspirador talento
como homem e artista» (com efeito, Sassetti não só esteve desde o início
no projeto, como toca numa das faixas); depois porque é o regresso de
Carlos Martins, após um longo período de ausência e de ter andado por
outras paragens musicais; finalmente, porque Carlos Martins é
seguramente um dos grandes e mais inovadores músicos portugueses.
Por hoje é tudo,
Ao final da tarde temos Expresso Diário.
Amanhã quem tira o Expresso Curto é o Pedro Santos Guerreiro, com o seu estilo acutilante e o seu português inconfundível.
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