segunda-feira, 29 de junho de 2015

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Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto
Henrique Monteiro
Por Henrique Monteiro
Redator Principal
 
29 de Junho de 2015
 


Sejamos otimistas. Tudo isto pode ainda piorar 

Não sei quem dizia que a diferença entre um otimista e um pessimista é que o pessimista afirma: “ Isto está tão mal que não pode piorar”. Perante isto responde o otimista: “ Pode, pode!”.

Na Grécia os bancos ficam fechados esta semana. Até a segunda feira, um dia depois do referendo subitamente convocado por Tsipras e aprovado sábado no parlamento de Atenas pelos partidos do poder e pelos neo-nazis do Aurora Dourada, no meio de muita agitação. É o que dizem todos os jornais, nomeadamente o Financial Times e o Wall Street Journal, que são da especialidade e, no Expresso, Jorge Nascimento Rodrigues que não lhes fica atrás. A decisão de fechar a banca e de fazer controlo de capitais foi tomada face à corrida às caixas multibanco deste fim de semana e na sequência do anúncio do BCE em manter, mas não aumentar, o fluxo de dinheiro para os bancos gregos, acrescentando que mesmo esse fluxo pode ser interrompido a qualquer momento. Para já, sabe-se que cada grego poderá levantar até ao limite de 60 euros por dia e segundo o Ekathimerini algumas delegações vão estar abertas para os pensionistas e idosos que não têm cartões. É uma espécie de 'corralito', como se viveu na Argentina há 12 anos. Ricardo Costa lembra isso mesmo aqui no Expresso online e no FT, Wolfgang Munchau diz que luta por compreender a razão de Tsipras, de repente, ter rompido as negociações e convocado o referendo 
Por seu turno, a Comissão Europeia publicou a última proposta feita pelas 'instituições' anteriormente designadas por troika, de modo a que todos possam aferir o que está em causa. E, de acordo com sondagens feitas na Grécia, o Governo tem uma grande probabilidade de perder a votação.
Onde vai isto parar? Não serei eu a responder. Já escrevi no Expresso que o Syriza prometeu Sol na eira e chuva no nabal. Agora, quem acreditou nessa possibilidade reparará que é difícil beneficiar dessa possibilidade. Para já, tanto os responsáveis europeus como Varoufakis dizem que a Grécia faz e vai fazer parte do Euro. Tsipras pediu mais tempo e assegura que os depósitos estão garantidos. Obama pressiona Merkel para manter a Grécia no clube. Como se sabe, falar é fácil. Difícil é prever as consequências de um referendo convocado contra os credores, a realizar no espaço de uma semana e sem saber exatamente o que se fará entretanto e depois, sobretudo quando a data limite do pagamento ao FMI (1,55 mil milhões) é amanhã. Mas o FMI já disse que admite atrasos. 


OUTRAS NOTÍCIAS
Maria de Jesus Barroso é uma mulher de armas. Esteja onde estiver, na profundeza da sua doença após uma queda em casa na noite de quinta feira, é uma mulher de armas. É uma grande senhora, que faz muita falta ao marido, à família, aos amigos e ao país. É uma reserva de amizade e de ternura. Tudo isto é escrito por quem andou no Colégio Moderno quando era ela a mandar e ficou para sempre admirador da sua sensatez, capacidade de luta e veracidade. Quem sabe que ela se converteu ao cristianismo por razão própria e contra as modas, porque é livre. Porque é verdadeira. Esteja onde estiver quero vê-la outra vez, pegar-lhe nas mãos, chamar-lhe soutora e ouvir a sua voz serena. Perdoem-me a nota pessoal, mas ela, para mim, não é a ex-primeira dama, nem a fundadora do PS, nem a deputada, nem a atriz, nem a fantástica declamadora de poesia. É a minha professora, a mestra da minha meninice, adolescência, juventude e aquela que ainda há poucos dias me segredava o orgulho que tinha nos seus alunos, sem nunca saber o orgulho que todos tínhamos nela. Na sua independência de espírito. Uma pessoa assim não morre nem se apaga, fica connosco. Com todos nós, sempre! 

Foi também sexta-feira passada, mas as ondas de choque mantêm-se. Foi um dia de terror, com 262 mortos e 385 feridos em três países diferentes. É assim, o mundo está perigoso e esta não será a última vez que se cita VPV. França, Kuwait e Tunísia, sendo que neste último país morreu uma portuguesa, uma senhora de 76 anos, viúva, reformada do ensino de piano no Conservatório do Porto. Chamava-se Maria da Glória, e estava na praia à hora errada, na primeira vez que saíra do país sozinha, para voltar a um local onde fora feliz com o marido, muitas vezes, em muitos anos. Os serviços secretos norte-americanos dizem estar convictos de que os atentados não foram coordenados, mas pelo sim pelo não reforçaram a segurança tendo em conta o próximo dia 4 de julho, o dia da independência dos Estados Unidos. De qualquer modo, todos os criminosos envolvidos tinham alguma relação com o Daesh, o autoproclamado Estado Islâmico. De referir que na Tunísia, país maioritariamente muçulmano, o ataque feito a um resort em Sousse é simultaneamente uma machadada na economia de um país onde 14% do PIB advém do turismo. Os cancelamentos continuam e as filas de turistas para sair do país aumentam.

Um foguetão não tripulado que transportava material para a estação orbital, explodiu no ar. É o terceiro acidente do género este ano.

De acordo com o Correio da Manhã de hoje o Tribunal de Contas arrasa os processos de privatização da REN e da EDP, tendo pago 10 milhões à Perella, uma empresa contratada sem sequer estar pre-qualificada. De resto, a Grécia domina as manchetes.

Quanto ao desporto, no Sporting realizou-se uma Assembleia Geral para expulsar o ex-presidente Godinho Lopes. A AG não foi exatamente para isso, mas foi isso que de lá se retirou. O atual presidente, Bruno Carvalho, apresentou provas demolidoras sobre a gestão do clube no passado. Se a proposta não tiver a forma de um boomerang, coisa que não sei, pode ser bom, apesar do processo ser estranho. Esperemos que as provas sigam para o Ministério Público e que haja conclusões independentes. Godinho Lopes também já prometeu responder. Quanto a Bruno de Carvalho, diz hoje na manchete de 'A Bola': "Para fazerem mal ao Sporting vão ter de me matar". Não há dúvida que a grandiloquência do populismo anda na moda.

E amanhã temos de ser os favoritos contra a Suécia na final do campeonato europeu de futebol sub-21, em Praga. Depois dos 5-0 contra a Alemanha na meia-final, nem o selecionador Rui Jorge admite outra hipótese. Já agora, fomos medalha de bronze em futebol de praia nos jogos europeus de Baku. Ao todo, 10 medalhas. Já na Copa América, depois do Brasil perder com o Paraguai nos penáltis, temos as meias-finais. Hoje Chile-Peru; amanhã o Argentina-Paraguai.


FRASES
"Foi isto que Atenas sempre quis? A pergunta passou a ser legítima", Teresa de Sousa, no 'Público' de ontem, num artigo que recomendo para a compreensão do muito que há a perceber.

"Queremos que os contribuintes dos outros países continuem a financiar o nosso modo e nível de vida? Esta é a pergunta a que os gregos gostavam de responder. Só que em política a mesma pergunta não se faz duas vezes. E já foi a esta pergunta que os gregos responderam quando elegeram o Syriza. Eles deram a maioria a um partido que lhes garantiu que ia mandar no dinheiro dos outros. E isso não é possível", Helena Matos, no 'Observador', embora não seja totalmente correto que os gregos tenham dado a maioria ao Syriza, apenas cerca de 36%, o que permite que as sondagens indiquem a derrota do Governo no próximo referendo.

"Este é um voto que o primeiro-ministro Alexis Tsipras deveria ter convocado, no mínimo, há um mês - caso fosse um esforço honesto para deixar o povo grego fazer uma escolha democrática sobre o seu futuro, o que não é", Mark Champion, no diário online grego Ekathimerini. Um ponto de vista que tem de nos fazer pensar.

"Quando um choque que previmos acontece, continua a sentir-se como choque", Wolfgang Munchau, no Financial Times a propósito da crise grega 


O QUE DIZEM OS NÚMEROS
153 mil migrantes vieram para a Europa, até esta altura do ano. O que corresponde a um aumento de 149% em relação a 2014. Desses, 63 mil chegaram à Grécia e 62 mil a Itália, via Mar Mediterrâneo. 10 mil tentaram entrar na União Europeia via fronteira da Sérvia com a Hungria. 1816 migrantes morreram na travessia do Mediterrâneo central e 1865 no conjunto das rotas de migração. Neste magnífico trabalho da BBC pode ver estes números, os mapas das origens dos migrantes, o pouco que a UE anda a fazer e diversas outras informações para quem se interessa pelo que vai ser, provavelmente, o maior e mais desprezado drama da humanidade nos nossos tempos. 


O QUE EU ANDO A LER
“O primeiro Duque de Palmela”, D. Pedro de Sousa Holstein, foi também o primeiro conde e o primeiro marquês a usar aquele título. Liberal, moderado, sempre a bater-se por compromissos, foi mal visto de ambos os lados das contendas que atravessaram a sua vida, que se estende de 1781 a 1850. Diplomata, em 1802, com apenas 21 anos já era conselheiro da Embaixada em Roma, onde o seu pai, D. Alexandre, era titular, combate as invasões francesas, conhece o exílio e é um dos grandes apoiantes da monarquia constitucional. As inúmeras voltas e reviravoltas desses tempos conturbados são descritos neste pequeno livro (175 páginas) de Maria de Fátima Bonifácio que consiste essencialmente no prefácio que a historiadora fez à edição de 2011 das memórias do Duque de Palmela, num capítulo adicional sobre a diplomacia de D. Pedro de Sousa Holstein e numa cronologia bastante útil. O livro é da editora D. Quixote e lê-se numa tarde pachorrenta com a sensação de que – como costuma dizer e redizer Vasco Pulido Valente – o liberalismo e os portugueses são como a água e o azeite. Palmela que “procurou sempre um partido moderado e médio, sem nunca o encontrar”, como escreve a autora, anda por aí em espírito, nos que combatem “o meio político polarizado pelos extremos conservador e radical”. Já agora, outra nota sentimental, foi na rua Duque de Palmela que nasceu e viveu (os primeiros 30 anos) o Expresso.

E é tudo!

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