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Por João Vieira Pereira
Diretor-Adjunto
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3 de Junho de 2015 |
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Blatter e a verificação do sexo
Bom dia,
E ao quarto dia Blatter cai. Ou deixa-se cair. Simulação? O todo-poderoso presidente da FIFA não resistiu ao escândalo de corrupção e acabou por dizer ‘pronto, vou-me embora’. Mas só lá para dezembro ou em março do próximo ano. Blatter lá foi dizendo "apesar de ter um mandato para liderar a Fifa, não sinto que tenha um mandato para o todo o mundo do futebol". Afinal no futebol também os grandes têm mais peso do que os pequenos. Pode ler aqui o discurso na integra de Joseph Blatter, onde explica porque sai depois de 17 anos a liderar aquele organismo e depois de quatro dias de ter ganho as últimas eleições.
Das investigações em curso nada diz mas, o New York Times garante que ele está sob investigação federal por corrupção. O caso estará a ser construído pelas autoridades norte-americanas que esperam contar com a colaboração dos membros da FIFA recentemente detidos para poder acusar Blatter.
As reações não se fizeram esperar de todo o mundo. De regozijo ou consternação pela sua saída. Pode ler aqui os comentários nas redes sociais à sua demissão. Desde Ruud Gullit, a Gary Lineker ninguém ficou indiferente a este anúncio. Quem não perdeu tempo foi Ginola que avançou já que é candidato à liderança da FIFA, juntando-se ao príncipe jordano, que perdeu a eleição recente para Blatter. Já Luís Figo foi mais cauteloso e, como escreve o Expresso, o ex-jogador apenas não fecha a porta a uma nova candidatura. Diz que este foi "um dia bom para FIFA e para o futebol. Como disse na minha declaração de sexta-feira: o dia podia tardar, mas chegaria. Ele aí está! Devemos agora, de forma responsável e serena, procurar uma solução consensual em todo o mundo para que comece uma nova era de dinamismo, transparência e democracia na FIFA."
O outro escândalo da FIFA não é tão sexy, mas tem tudo a ver com sexo. O mundial de futebol feminino que começa na próxima sexta-feira no Canadá está envolta numa polémica de género. Como escreve o El País, a FIFA instaurou uma norma segundo a qual as jogadoras, em caso de dúvida, têm de demonstrar que são de facto mulheres. Para que tal aconteça basta que uma equipa considere que tem motivos e evidências para pensar que uma jogadora é na realidade um homem. Polémica à parte veja aqui as qualidades, técnicas, de algumas das melhores jogadoras em destaque.
A Grécia continua na confusão habitual. Os credores dizem que chegaram a uma espécie de acordo, onde ainda há muitas diferenças, sobre o que pedir ao governo grego em troca de um novo resgate. O documento poderá ser apresentado hoje a Atenas, numa espécie de “take-it-or-leave-it”. Tsipras grita chantagem e diz que ele mesmo redigiu uma nova proposta de acordo para enviar a Bruxelas e ao FMI onde diz que não pode fazer mais concessões. Uma novela que ficou mais intrincada com os rumores de uma crise política. O ministro do Trabalho grego já avisou que se não for alcançado um acordo honrado então terá de haver eleições. "Quando somos eleitos não nos é dada uma carta branca" avançou.
Na sexta feira a Grécia tem de pagar uma tranche de 300 milhões de euros ao FMI. O primeiro de quatro pagamentos em junho. Siga neste impressionante gráfico do WSJ a penosa estrada da dívida grega. Sobre o assunto pode ler a opinião de Ricardo Costa que continua sem perceber que raio de estratégia teve o governo grego nestes meses todos.
O FMI veio também dizer que a dívida portuguesa está no limite. Portugal ainda tem um pequeno espaço para a dívida crescer mas está já numa zona de risco significativo. Vale a pena ler o estudo e tomar atenção ao gráfico da página 4. Pior que Portugal estão o Japão, a Itália, a Grécia e Chipre onde a dívida já não tem qualquer espaço para crescer.
Hoje deverão também ser apresentadas as linhas programáticas da coligação PSD/CDS às próximas eleições. Sobre as medidas, Passos Coelho e António Costa concordam numa coisa, não vai haver surpresas. O documento terá um período de debate público, um mês, e só depois será transformado em programa político.
OUTRAS NOTÍCIAS
Isabel, a portuguesa, é cada vez mais Isabel, a incontornável. Parece que qualquer grande negócio em Portugal não acontece sem ela. Estava escrito nas estrelas que a Efacec ia a caminho de Angola. Só não se sabia quando. O negócio envolve não só a empresária mas também o estado angolano que deverá ficar com uma participação de 65% na empresa. O Expresso Diário dá-lhe os pormenores.
Ricardo Salgado pode ser preso na Suíça, pelo menos essa é a convicção de Júlio Castro Caldas, ex-ministro da Defesa e advogado de clientes lesados pelo Banque Privée Espírito Santo. A notícia faz manchete do jornal i.
Onde quer a geração millennium trabalhar? A Forbes publica a lista das 25 empresas onde os jovens mais querem trabalhar. Apesar da liderança da Google, são as empresas na área da saúde que mais estão presentes no ranking. Pode consultar aqui o estudo em causa.
A PT já é da Altice. O fundo de investimento de origem francesa já recebeu as chaves e desembolsou 5,789 mil milhões pela empresa. Valor que está longe dos 7,4 mil milhões acordados. Tudo porque havia uma série de contingências que tinham de ser descontadas. Não deixa de ser um bom preço por uma empresa como a PT.
Em Alcabideche, Cascais, a polícia descobriu um homem, deficiente profundo, de 38 anos que estaria preso pela mãe numa cave há pelo menos oito anos. A história arrepia.
‘Um em cada quatro jovens acha que a violência no namoro é normal’ - É o título de uma notícia do Público. Ao contrário de muitas outras parece despercebida. É aquele encolher de ombros perante a violência. É como se estivéssemos anestesiados. A conclusão é de um estudo da UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta) apoiada pela Fundação Gulbenkian.
A seleção de Portugal que está a disputar o mundial de futebol sub-20 garantiu esta manha a presença nos oitavos de final ao ganhar ao Qatar por 4-0.
FRASES
"Independentemente do que possa acontecer no curto prazo ou no médio prazo, associado a uma evolução menos positiva das negociações com a Grécia, o país, Portugal, está devidamente apetrechado para poder responder a essa instabilidade", Passos Coelho
“Desminto que tenha decidido o que quer que seja. É isso. E quem sabe se decidiu sou eu e não terceiros, nem quartos, nem quintos”, Rui Rio sobre as notícias que o dão como candidato a Belém.
O QUE DIZEM OS NÚMEROS
272 milhões de euros é o valor do crédito ao consumo concedido pelos bancos em março deste ano. Os dados no Banco de Portugal fazem manchete do Público de hoje. O jornal diz que é preciso recuar a março de 2011 para encontrar um valor mensal mais alto.
4486300 pessoas têm trabalho em Portugal. Os números do emprego foram divulgados ontem pelo INE e mostram uma recuperação desde o início do ano.
6,3% foi quanto cresceu o número de empregados entre os mais jovens no espaço de um ano
O QUE EU ANDO A LER
Martin Wolf é sem dúvida um dos jornalistas económicos mais influentes da atualidade. O seu livro “The Shifts and the Shocks” data de agosto do ano passado, mas a sua edição em Portugal só agora chegou às livrarias pela mão da editora Clube do Autor.
Confesso que sou fã. Não só do que escreve, mas acima de tudo do que defende. Os seus profundos valores liberais não se alteraram, mas ao longo dos já muitos anos de investigação económica, Wolf tem vindo a alterar a forma como pensa as finanças e a macroeconomia e como as duas se inter-relacionam. Democrata liberal convicto é uma das vozes mais críticas à maneira como a crise de 2008 tem vindo a ser combatida. No prefácio do livro admite que está cada vez mais perto de Keynes e mais longe de Hayek. Isto porque há bens públicos e semipúblicos além da justiça e defesa, como “a proteção ambiental, o financiamento da investigação científica básica, o apoio à inovação técnica e a disponibilização de cuidados médicos, educação e rede de segurança social” sobre os quais fazer escolhas sobre a sua provisão não constitui uma violação da liberdade mas sim um garante desse mesmo valor.
Considera que hoje a maior ameaça à democracia liberal é a instabilidade financeira e económica, o desemprego elevado e a crescente desigualdade. E que: “o capitalismo financeiramente fomentado, que emergiu depois da contrarrevolução orientada para o mercado, mostrou ser uma coisa boa, mas em demasia”.
Recentemente Wolf deu uma entrevista ao Público onde volta a dizer que Portugal dificilmente escapará a uma reestruturação da sua dívida. Mas também diz que, no caso português e apesar de haver bons argumentos para uma aposta no investimento público, o regresso a uma política de estímulo orçamental agressiva é arriscado. Caso tenha interesse leia aqui a crítica de Joseph Stiglitz, Nobel da economia, sobre esta obra.
Por hoje é tudo.
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