terça-feira, 19 de janeiro de 2016

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Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto

João Vieira Pereira
Por João Vieira Pereira
Diretor-Adjunto
 
19 de Janeiro de 2016
 
A morte chegou de noite e levou Almeida Santos
 



António Almeida Santos morreu na noite passada. O histórico do partido socialista sentiu-se mal em casa, onde acabou por falecer. Estava à beira de celebrar 90 anos (nasceu a 15 de fevereiro de 1926). Era presidente honorário do partido e foi ministro de vários governos. A última vez que tinha tido funções governamentais foi no IX Governo Constitucional, liderado por Mário Soares, onde ocupou o cargo de Ministro de Estado.

A notícia foi confirmada no facebook por Carlos César, atual líder parlamentar do PS. Ainda no domingo Almeida Santos tinha participado numa ação de campanha das presidenciais em apoio a Maria de Belém. Na Figueira da Foz afirmou que a política portuguesa ainda não tinha tomado consciência do que deve à mulher portuguesa e vaticinou que se no dia 24 a candidata perdesse as eleições ganharia da próxima vez: “Não será a última vez que me ouvireis: a próxima vez que a Maria de Belém se candidatar eu cá estarei com ela, porque nessa altura já vai ser muito difícil derrotá-la, muito difícil. Lembrem-se disso, do que eu vos digo hoje: se não ganhar desta vez, não sei se ganha se não, da próxima ganha ela”

Não pode perder o texto de Ricardo Costa sobre Almeida Santos a quem atribui o papel de um dos “maiores protagonistas da política” e o título de “o príncipe dos seus bastidores”.

Este será um tema que o Expresso irá acompanhar durante todo o dia, podendo seguir aqui as reacções e as últimas notícias sobre o desaparecimento de Almeida Santos.

O dia de ontem foi negro também nos mercados.

Se alguém tivesse aterrado em Portugal no dia 18 de janeiro de 2016 vindo directamente do início de 2011 teria a noção que ainda estava naquele fatídico ano. Bastava olhar para as notícias económicas do dia. Bolsa em queda, investidores preocupados, juros a subir, prémio de risco do país a agravar-se.

Calma. Estamos (ainda) muito longe da situação de 2011. Mas vale a pena olhar para esta segunda-feira negra.

As ações da Mota Engil tiveram de ser suspensas em bolsa quando estavam a cair já mais de 22%. Ninguém sabe muito bem explicar o que aconteceu mas tudo terá a ver com a queda o preço do petróleo. A empresa está muito exposta ao mercado africano e a economias que dependem do petróleo, pelo que a deterioração do preço do crude terá levado os investidores a pensar que a empresa, a maior construtora portuguesa, poderá vir a enfrentar problemas.

Eu não acredito em bruxas, mas que as há, há! E neste caso há muitas. Eram conhecidas as dificuldades que a empresa atravessa, tal como todas as construtoras. E o preço do petróleo está a cair faz já muito tempo. Então o que fez os investidores terem carregado no botão de venda? Aqui há gato. E cabe à CMVM perceber o que está a acontecer.

Para ajudar veio o descalabro de toda a bolsa, seguindo a trajetória europeia e asiática, ao mesmo tempo que os juros da dívida pública subiram, ainda no rescaldo da imagem que os investidores criaram sobre Portugal. O Financial Times escrevia ontem que os bancos da periferia estão a sofrer com a decisão portuguesa de chamar os obrigacionistas sénior a pagarem mais um buraco no Novo Banco. Uma situação que levou a gigante gestora de fundos Blackrock a avisar que os investidores estavam agora mais “cautelosos” em relação à divida pública portuguesa.

E o Público escreve que a Comissão Europeia está a exigir ao governo que apresente um défice abaixo dos 2,8%. Isto na semana em que deve ser conhecido o primeiro draft do Orçamento do Estado.

Já esta madrugada ficou a saber-se que a China cresceu em 2015 ao ritmo mais lento dos últimos 25 anos. O governo reviu em baixa as estimativas de crescimento, para 6,8%. Apesar disso as bolsas asiáticas reagiram com algum otimismo. Analistas dizem que o mercado ainda está a digerir estes números. Veremos.

SÓ SOBRE AS PRESIDENCIAIS
Hoje é dia do grande debate que vai juntar os 10 candidatos, na Fundação Champalimaud, a partir das 21 horas e será transmitido pela RTP. Face ao interesse que estas eleições têm mostrado estou curioso em ver os números das audiências.

Marcelo anda a tentar mostrar que se pode a agradar a todos. Lá vai dizendo que é preciso estabilidade governativa, ao mesmo tempo que critica a instabilidade de políticas em algumas aéreas. Sabe quem são as vítimas deste ameno ataque de Marcelo?

“Era o que faltava que agora fosse mais importante apoiar independentes do que socialistas”. Maria de Belém ao ataque. Contra Sampaio da Nóvoa. E contra vários dirigentes socialistas e até membros do Governo que têm aparecido a apoiar aquele independente.

Quem deve concordar com Maria de Belém é (o ainda socialista) Henrique Neto. Se calhar é por ter visto tantos membros do seu partido a apoiar um independente que está a ponderar deixar de ser militante do PS: “Porventura não me vou manter como militante do PS”.

Quem não está preocupado com esta questão é Sampaio da Nóvoa, que desvaloriza a questão do apoio socialista e remata com uma conclusão, talvez académica, ao dizer que só tem dois adversários: “Marcelo Rebelo de Sousa e a abstenção”. Um pouco de consideração pelos adversários ficava-lhe, no mínimo, bem.

Não se esqueça que pode seguir toda a campanha no site do Expresso.

 
OUTRAS NOTÍCIAS
Marrocos. Foi preso um cidadão belga membro do autoproclamado estado islâmico e que estará associado a dois dos homens ligados aos atentados de novembro em Paris. Gelel Attar, 26 anos, foi preso na sexta-feira passada mas só agora foi comunicada a detenção pelas autoridades marroquinas.

O WhatsApp e o Instagram anunciaram que vão mudar os seus modelos de negócio com vista a aumentar receitas. O primeiro deixa cair o custo de 99 cêntimos cobrados depois de um ano de uso. Vai focar-se nas receitas que pode gerar junto de empresas que queiram chegar aos seus quase 900 milhões de utilizadores. Já a rede social de fotografias quer alargar o seu modelo de anúncios para chegar aos pequenos negócios, que acredita serem aqueles onde mais irá crescer a publicidade.

François Hollande considerou que o país está num estado de emergência económico e anunciou um plano para cortar rapidamente o desemprego. E tentar ganhar terreno para as eleições de 2017.

Amanhã começa em Davos uma das reuniões económicas mais esperadas do ano. O World Economic Forum realiza-se de 20 a 23 de janeiro e a Reuters mostra-lhe o que pode esperar da reunião. O nosso ministro da Economia (sim temos um) também lá vai estar.

Em Espanha continua o impasse político e apesar das sondagens mostrarem que os espanhóis não querem novas eleições, o Rei Filipe VI assinalou aos partidos que vê com dificuldade a nomeação de Rajoy para liderar o governo. O El País e o El Mundo explicam-lhe o que está em causa.

O gigante Barclays está a considerar sair do mercado africano. Uma saída gradual, depois dos seus executivos terem considerado que serem maioritários em negócios bancários em África não está de acordo com estratégia do banco. A notícia é avançada pelo Wall Street Journal.

Amanhã o franco-israelita Patrick Drahi, dono da PT Portugal, vai estar em Aveiro para o lançamento do projeto Altice Labs, assente na PT Inovação. É o primeiro evento público em que participa. A Altice Labs arranca com mais de mil engenheiros.

A Bial continua a sofrer as consequências da tragédia ocorrida em França num ensaio clínico com um dos seus medicamentos. Na sequência da morte, no domingo, de um dos voluntários e a hospitalização de outros cinco, as autoridades francesas anunciaram a abertura de três inquéritos oficiais. O corresponde do Expresso em Paris, Daniel Ribeiro, conta-lhe o que está em causa.

A legislatura ainda mal começou e o ministro da Educação pode ficar rapidamente conhecido como o ministro que mais tábua rasa fez das políticas do anterior governo. Tiago (muda tudo) Brandão Rodrigues decidiu agora que vai retirar às escolas a possibilidade de definirem critérios próprios para a contratação de professores.

Idealizada por Souto Moura, a casa que deveria ter recebido o espólio de Manuel Oliveira foi comprada pelo marido de Isabel dos Santos. Por 1,58 milhões de euros.

Uma das boas heranças do governo Sócrates (sim, também as há) vai regressar. A ministra da Presidência e da Modernização Administrativa garantiu que o Simplex está de volta e que tem como marca forte a participação de autarcas, empresários e cidadãos. Um portal único organizado por serviços, uma declaração única e integração de serviços para facilitar a vida às empresas e cidadãos são algumas das medidas. Plano será apresentado em maio.

José Peseiro é o novo treinador do FC Porto.

Ainda em relação ao Porto, Eduardo Silva, homem de confiança de Pinto da Costa, patrão da segurança noturna em Lisboa e no Porto, dono da empresa de segurança SPDE conhecido por 'Edu' ou ‘Maestro’ e figura chave na investigação do DCIAP ao submundo da noite, depois de seis meses preso já pode ir para casa. Mas não vai sozinho, leva consigo uma pulseira eletrónica.

FRASES
“O FC Porto é o meu clube, é o clube do qual sou adepto e é sempre um sonho voltar um dia. No entanto, é altamente improvável que aconteça num futuro próximo”, André Villas-Boas.

“O meu sonho de sociólogo era ir a um concerto de Tony Carreira”, Augsto Santos Silva (DN) sobre a recente polémica entre o cantor português e o embaixador português em França.

“Ofereceram-me 300 mil dólares para perder um jogo” Frederico Gil (DN) na sequência do escândalo dos jogos viciados no ténis mundial a denunciar que também foi alvo de propostas.

 
O QUE DIZEM OS NÚMEROS
7.200. É o número de nados mortos no mundo a cada dia, apesar de se verificar uma redução de 2% por ano entre 2000 e 2015.

15.710. É o número de ogivas nucleares existentes no mundo, das quais 7.500 pertencem à Rússia e 7.100 aos EUA. Menos 25% que na época da Guerra Fria. França tem 300, a China 250, o Reino Unido 225, o Paquistão 130, a Índia 110, Israel 80 e a Coreia do Norte 15.

5 milhões. É o número de empregos que se vão perder até 2020 graças às novas tecnologias e robots.

 
O QUE EU ANDO A LER
Deixo a sugestão de um tema que pode explorar através de dois artigos e dois estudos.

No dia 11 de abril de 2011 a revista TIME publicou na capa a fotografia de uma pedra de shale sob o sugestivo título “This rock could power the world”. Na altura pouco se falava do gás de shale e muito menos da possibilidade de se extrair petróleo daquelas pedras. Cinco anos depois, a rocha que foi estrela da revista não está a alimentar o mundo de energia mas fez algo com muito mais impacto. O título mais correcto teria sido “This rock could change the world”, pois foi exactamente isso que aconteceu.

Um estudo do econometrista James D. Hamilton publicado pelo NBER explicava que a rápida subida do petróleo no verão de 2008 se devia a três factores distintos: a fraca elasticidade do preço em relação à procura, o forte crescimento da procura por parte da China e de outras economias em desenvolvimento, e o falhanço em aumentar a produção global de petróleo.

Na altura especulava-se que o crescimento exponencial da necessidade de cada vez mais e mais petróleo iria colocar em cima da mesa uma data para o fim do ouro negro e com isso fazer crescer a pressão sobre o preço.

Como sempre, a probabilidade dos economistas estarem errados era elevada. Oito anos depois nada disso aconteceu, pelo contrário. Hoje é um dado adquirido que a procura pelo petróleo não está a subir ao ritmo estimado (vale a pena ler este estudo sobre o assunto). Os automóveis continuam a ser os grandes consumidores de petróleo, mas a procura por parte destes não irá crescer significativamente. Até 2025 os grandes aumentos do consumo virão do transporte aéreo, da indústria química e do transporte de mercadorias.

A Mckinsey estima que no longo prazo o preço do petróleo deve ficar entre os 70 e os 85 dólares. Mas isso é se o mundo não mudar. Esta semana a TIME faz capa com a China: o artigo “Made in China: the next global recession” é imperdível (infelizmente só está disponível para assinantes) sobre o desafio que se avizinha na China. E do Oriente não vem nada de bom. Há uma bolha de dívida na China que está a rebentar, e mesmo com moeda própria e um mercado sobre as ordens do governo central os efeitos já estão a sentir-se. A única economia que nos últimos anos contribuiu significativamente para o crescimento mundial está a arrefecer e com ela, defende a TIME, uma “crise de metástases” que não quer saber de fronteiras e não mostra sinais de parar.

Gostava de lhe ter trazido melhores notícias mas nos dias de hoje é apenas isto que eu ando a ler.

O Curto regressa amanhã, pela mão de Martim Silva. Tenha uma ótima terça-feira.

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