quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

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Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Nicolau Santos
Por Nicolau Santos
Diretor-Adjunto
 
21 de Janeiro de 2016
 
Os oceanos vão ter mais plástico do que peixes. E a banca mundial ataca Portugal
 
Bom dia,

Ontem fui almoçar ao Futuro e não gostei. O estabelecimento está com um ar desleixado, a lista é pouco variada, o serviço demorado e a clientela escasseia. A comida ainda é aceitável mas já foi melhor. Não recomendo o Futuro aos meus amigos. Nem se recomenda o Futuro que vamos deixar às novas gerações.

No Fórum Económico Mundial de Davos, que reúne anualmente a elite empresarial e política do planeta, um estudo da fundação da velejadora britânica Ellen MacArthur, em parceria com a consultora McKinsey, deixa qualquer um muitíssimo preocupado sobre o futuro do planeta azul. De acordo com o estudo, o aumento da utilização de plásticos é de tal forma significativo que em 2050 os oceanos vão ter mais detritos plásticos do que peixes.

Segundo o relatório, a proporção entre as toneladas de plástico e as toneladas de peixe registadas nos oceanos era de um para cinco em 2014. Em 2025, será de um para três e em 2050 irá evoluir de um para um. Daí que o fórum considere necessário "uma reformulação total das embalagens e dos plásticos em geral", bem como a procura de alternativas ao petróleo, a principal matéria para a produção do plástico.

Mas se pensa que esta é a única má notícia que vem de Davos, desengane-se. A quarta revolução industrial que está em marcha vai combinar numerosos fatores como a internet dos objetos ou a "big data' para transformar a economia. Em consequência, para além da perda de cinco milhões de empregos nos próximos cinco anos em todo o mundo, a quarta revolução industrial provocará "grandes perturbações não só no modelo dos negócios, mas também no mercado de trabalho", indica um estudo do WEF, que organiza o Fórum de Davos.

Assim, "sem uma atuação urgente e focada a partir de agora para gerir esta transição a médio prazo e criar uma mão-de-obra com competências para o futuro, os governos vão enfrentar um desemprego crescente constante e desigualdades", alerta o presidente e fundador do WEF, Klaus Schwab.

Última má notícia vinda de Davos (e o Fórum só acaba no fim-de-semana): não é impressão sua o planeta está mesmo a aquecer. O ano de 2015 foi o mais quente em termos globais desde que tiveram início os registos de temperatura, no final do século XIX, segundo a agência federal norte-americana para a atmosfera e os oceanos (NOAA). Em 2015, a temperatura média na terra e nos oceanos ficou 0,90 graus Celsius acima da média do século XX, tornando-se a mais elevada desde que começaram os registos em 1880 e deixando muito para trás o anterior máximo, verificado em 2014, com 0,16ºC acima da média, o que torna a diferença - de 0,74ºC - a mais acentuada de sempre entre dois recordes.

O mais otimista foi mesmo Nouriel Roubini, o único economista que antecipou a crise de 2008. Agora, o “Dr. Doom” diz que “não vai ser como em 2008/2009. Atualmente não temos o excesso de alavancagem no sistema financeiro que existia anteriormente”. Uff!
 

OUTRAS NOTÍCIAS
Mas no nosso pequeno mundo não estamos descansados. O Diário de Notícias anuncia em manchete que os “maiores bancos do mundo atacam Banco de Portugal”. Diz o jornal: “Os maiores bancos do mundo vão reunir-se hoje, ao meio-dia, em Londres, para avaliar o problema criado pelo Banco de Portugal nas obrigações do Novo Banco. Ontem, houve uma primeira reunião. Foi inconclusiva”. E acrescenta: se os bancos considerarem que se trata de um “evento de crédito” (ou seja, o não cumprimento de um pagamento), então “podem estar em risco de incumprimento não cinco, mas mais de 50 linhas obrigacionistas do Novo Banco no valor de 18 mil milhões de euros em dívida”.

Na política, há uma história de amor: a de Marcelo Rebelo de Sousa por António Costa. Ora leia o que Filipe Santos Costa escreveu no Expresso Diário: “Não há nuvens que António Costa possa ter no horizonte que Marcelo Rebelo de Sousa não faça por afastar. Bruxelas ameaça fazer voz grossa em relação ao esboço de Orçamento que Mário Centeno está a preparar? "Estou esperançado que não haja problemas com o Orçamento em relação a Bruxelas”, desdramatiza o candidato. BE e PCP deixam no ar ameaças de que pode haver crise política se o OE for à medida de Bruxelas e não à semelhança do acordo das esquerdas? O candidato elogia a habilidade negocial de António Costa”.

O candidato presidencial mais bem colocado para ganhar as eleições, segundo todas as sondagens de opinião, pisca os dois olhos ao Governo PS e ao eleitorado socialista: "O equilíbrio que o Governo está a tentar fazer é, por um lado, cumprir os compromissos eleitorais e os compromissos dos acordos com os três partidos no Parlamento e, por outro lado, não se afastar da meta inferior a 3% e não se afastar das regras do euro. É esse equilíbrio, talentoso, que eu espero que seja atingido. Era bom para o país”. Marcelo vai mesmo mais longe para agradar ao eleitorado mais à esquerda e vá de constatar que mesmo o Bloco e o PCP não querem “provocar crises”.

Quem não acredita em Marcelo é Manuel Carvalho de Silva, que ontem interveio em apoio de Sampaio da Nóvoa para afirmar que "os problemas das pessoas não se resolvem com afeto, nem porreirismos, nem palmadinhas das costas". E o candidato, ele próprio, não fez a coisa por menos: "na ânsia de se afastar dos partidos pelos quais ainda há três meses fazia campanha, Marcelo já negou nesta campanha mais vezes Pedro do que Pedro negou Cristo".

O certo é que Marcelo recebeu ontem um apoio de peso: o de José Mourinho. Em fato de treino e em sua casa, gravou um vídeo de apoio ao candidato, justificando assim a sua escolha (e o facto de pela primeira vez tomar posição política): “Tenho a clara noção de que precisamos de um vencedor e de carisma.”

Por seu turno, Francisco Louçã acredita na candidata do Bloco de Esquerda, afirmando que “Marisa terá mais votos que Maria de Belém”. Por sua vez, Edgar Silva, o candidato do PCP, teve um pequeno lapsus linguae: “Pusemos o Coelho com asas e agora pomos o Cav…ai… o Marcelo a andar”.

De Moçambique vem uma notícia que mostra que o país está de novo a viver uma enorme tensão: O secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, foi baleado por desconhecidos na cidade da Beira, centro de Moçambique, mas está livre de perigo.

Em França, a polícia recebeu uma ajuda inesperada. A última edição da Dabiq, a revista online em inglês dos jihadistas, dedica a penúltima página aos nove homens que efetuaram os recentes atentados em Paris, confirmando as suas identidades.

De ontem, vem ainda as mortes de Nuno Teotónio Pereira, uma das mais destacadas personalidades da arquitetura portuguesa, “o último dos modernos”, como lhe chama o Público, de Ettore Scola, um dos maiores realizadores italianos, autor dos inesquecíveis “Feios, porcos e maus” ou “Tão amigos que nós éramos”, e a presidente da Associação Sol, Teresa Almeida.

Foi ainda anunciado a possível existência no nosso sistema solar de um Nono Planeta, muito para lá de Plutão. O Nono Planeta, segundo a equipa de astrónomos do Instituto de Tecnologia da Califórnia (nos EUA) que fez o anúncio,tem dez vezes a massa da Terra e está tão longe do Sol que demora 10.000 a 20.000 anos a completar uma órbita à nossa estrela.

E quanto ao Daesh, a barbárie continua. O Estado Islâmico destruiu um dos monumentos cristãos mais antigos do Iraque, o mosteiro de São Elias ou Dair Mar Elia, arrasado em agosto ou setembro de 2014.

 
FRASES
“Acabou-se o consenso político e económico. Vivemos tempos de transição”.Durão Barroso no Fórum de Davos, Diário de Notícias

“Eu e o Armando não tínhamos medo de nada nem de ninguém”. Patrick Drahi, fundador da Altice e atual dono da PT, o homem que disse que não gosta de pagar salários, Jornal de Negócios

“Esconder problemas como o Banif custa muitos milhões de euros aos portugueses”. Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, Diário de Notícias

“Novo banco é um peixe muito grande para o Bankinter”. José Luis Veiga, diretor do gabinete de integração do banco espanhol, Diário de Notícias

“Cavaco não tolerava uma crítica. Marcelo aguenta-as com tranquilidade”. José Miguel Júdice, jornal i

“A democracia exige ética e nem tudo o que é lícito é honesto”. Adelino Maltez, apoiante de Maria de Belém, criticando Sampaio da Nóvoa, jornal Público

“Quando foi da fiscalização dos cortes de salários, ficou quietinha”. André Freire, apoiante de Sampaio da Nóvoa, criticando Maria de Belém, jornal Público

“É tão errado culpar os cortes por todos os incidentes, como errado será dizer que não têm nenhum efeito”. Adalberto Campos Fernandes, ministro da Saúde, jornal Público

 
O QUE ANDO A LER
Se eu fosse exagerado diria que há um novo Cesariny. Mas isso seria injusto para os dois. Para Cesariny e para João Gesta – que além do mais tem já uma longuíssima carreira ligada às artes e à poesia, sendo o grande animador e responsável das Quintas de Leitura no Teatro do Campo Alegre. Contudo, “A (s)obra cáustica do renegado Gesta”, um conjunto de textos e ilustrações do próprio e de poetas e artistas plásticos amigos do autor (entre os quais Filipa Leal, Rui Reininho, Adolfo Luxúria Canibal, Inês Fonseca Santos, Afonso Cruz, Maria do Rosário Pedreira, Valter Hugo Mãe, Golgona Anghel, etc), remete-nos, por não poucas vezes, para os textos de Cesariny, para a sua ironia cáustica, para a sua crítica verrinosa deste país dito de brandos e bafientos costumes. Pois bem:Gesta e amigos deitam abaixo portas, partem janelas e deixam entrar uma violenta rajada de ar fresco que, ao invés de nos fazer correr o risco de apanharmos uma pneumonia, nos faz ver este país com outras cores, outras raivas, outras raças. Ou como diria a Filipa Leal, dirigindo-se ao ex-ditador romeno Ceaucescu, “Ai Nicolae, Nicolae, leva-me a andar de helicóptero”.

E pronto, está servido mais um Expresso Curto, segundo o nosso lema: boa leitura em boa companhia – e com um bom café. Amanhã estará por cá ao seu dispor o Miguel Cadete, que domina o mundo das artes e espetáculos além de muitos outros misteres. Tenha um muito bom dia. E vote bem.

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