Bom dia, este é o seu Expresso Curto |
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29 de Janeiro de 2016 | ||
Contributos para uma teoria do caos
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O mundo está perigoso. Se eu fosse o Chico Buarque optaria por dizer que a coisa está preta. A Simone, a brasileira Bettencourt de Oliveira, talvez optasse por uma mais dolorosa e incomodada versão do "Começar de Novo", enquanto o Fausto não deixaria de confirmar que o barco está de saída e, como vêm aí mouros e turcos, quem nos acode que o barco vai ao fundo? Vamos por partes. Comecemos com uma das grandes dores de cabeça do momento. O vírus Zika está a mobilizar exércitos e a colocar governos e a Organização Mundial de Saúde (OMS) num estado de alerta profundo. Uma dúvida surge: Poderá o "El Niño" estar na origem da explosão do temível vírus Zika? Há cientistas inclinados a aceitar esta hipótese, como reporta num bem documentado trabalho a revista norte-americana Mother Jones. O caso está tomar proporções extremas, ao ponto de as mulheres em El Salvador terem sido aconselhadas a não engravidar. No Expresso Diário, a Vera Lúcia Arreigoso dá-nos conta da confirmação de seis casos em Portugal, e a Mafalda Ganhão fala do alerta lançado pela OMS. A situação é mesmo muito grave e a BBC avança já com uma previsão da OMS segundo a qual o vírus pode vir a afetar 4 milhões de pessoas.
A revista Atlantic traz um excelente trabalho construído a partir de uma espécie de manual de como não receber bem ou não dar as boas vindas aos refugiados. Refere-se, é claro, e perdoe-se o adjetivo, à infame decisão da Dinamarca de confiscar os bens de refugiados. Podia acrescentar-lhe a atitude da Suécia de, como sublinha hoje o editorial do Público, instituir um programa de deportações para lidar com as vagas de refugiados. A BBC faz um trabalho sobre esta vontade sueca de deportar 80 mil refugiados. António José Teixeira tinha ontem ontem no Expresso Diário este título: "Tapa-se a vergonha e confisca-se a dignidade", para dizer que "o medo está a condenar a Europa. Medo de si própria, medo do outro, de dar a mão, medo de se afirmar, medo de honrar os valores por que tanto se sacrificou". Estão a ver porque chamei a canção de Fausto à colação? A EU é na verdade um enorme navio. Navega em águas muito agitadas e corre o risco de, para usar uma linguagem do basquetebol, sofrer um grande afundanço.
Veja-se a Grécia. Até já é ameaçada de ser excluída do Espaço Shengen por alegadamente não estar a cumprir as suas obrigações de conter os refugiados. É que, enquanto sopram grandes e verdadeiras tempestades, daquelas para as quais é necessária coragem e determinação, como única forma de enfrentar os fortes (ventos, se quiserem, embora fique implícita a metáfora), a grande, a candente questão da Europa é a preocupação com o défice de um minúsculo país como Portugal. Há uma diferença substancial de estimativas entre o Governo e a Comissão Europeia em relação à variação do valor do défice estrutural em 2016. A Unidade Técnica de Apoio Orçamental-UTAU também veio sustentar que o exercício orçamental considera medidas extraordinárias e temporárias não conformes com o Código de Conduta para a Implementação do Pacto de Estabilidade e Crescimento e acusa o Governo de melhorar "artificialmente" o esforço orçamental. A Deloit vem dizer que o Orçamento é um documento sem grandes medidas e que assenta na crença. O Governo está a ensaiar uma defesa assente num pressuposto: a inscrição da reversão da austeridade como medida extraordinária, lê-se no Público, está baseada no facto de, quando as medidas foram aplicadas em 2011 e 2012, terem sido apresentadas como sendo temporárias. Assim, o carater temporário dessas medidas devia estar expresso nas contas.
A pressão é enorme e, dizia ontem Pacheco Pereira na Quadratura do Círculo, vai aumentar, até pelo jogo que será feito no âmbito da União Europeia a partir do que se considera ser a fragilidade inerente ao facto de o Governo ter o apoio do BE e do PCP. Há a expectativa de que a corda rompa, o que nos conduz à pescadinha de rabo na boca. Já se perguntou porque é que os governos parecem incapazes de resolver os problemas concretos das pessoas? Há quem explique esta situação com uma afirmação com a qual qualquer pessoa de bom senso, como diria o futuro ex-presidente da República, estará de acordo. Hoje é possível estar na política sem estar no poder. O verdadeiro poder pertence a quem controla a economia. E quando assim é, aproximamo-nos perigosamente do incontrolável caos na gestão da coisa pública. É uma teoria.
A revista Atlantic traz um excelente trabalho construído a partir de uma espécie de manual de como não receber bem ou não dar as boas vindas aos refugiados. Refere-se, é claro, e perdoe-se o adjetivo, à infame decisão da Dinamarca de confiscar os bens de refugiados. Podia acrescentar-lhe a atitude da Suécia de, como sublinha hoje o editorial do Público, instituir um programa de deportações para lidar com as vagas de refugiados. A BBC faz um trabalho sobre esta vontade sueca de deportar 80 mil refugiados. António José Teixeira tinha ontem ontem no Expresso Diário este título: "Tapa-se a vergonha e confisca-se a dignidade", para dizer que "o medo está a condenar a Europa. Medo de si própria, medo do outro, de dar a mão, medo de se afirmar, medo de honrar os valores por que tanto se sacrificou". Estão a ver porque chamei a canção de Fausto à colação? A EU é na verdade um enorme navio. Navega em águas muito agitadas e corre o risco de, para usar uma linguagem do basquetebol, sofrer um grande afundanço.
Veja-se a Grécia. Até já é ameaçada de ser excluída do Espaço Shengen por alegadamente não estar a cumprir as suas obrigações de conter os refugiados. É que, enquanto sopram grandes e verdadeiras tempestades, daquelas para as quais é necessária coragem e determinação, como única forma de enfrentar os fortes (ventos, se quiserem, embora fique implícita a metáfora), a grande, a candente questão da Europa é a preocupação com o défice de um minúsculo país como Portugal. Há uma diferença substancial de estimativas entre o Governo e a Comissão Europeia em relação à variação do valor do défice estrutural em 2016. A Unidade Técnica de Apoio Orçamental-UTAU também veio sustentar que o exercício orçamental considera medidas extraordinárias e temporárias não conformes com o Código de Conduta para a Implementação do Pacto de Estabilidade e Crescimento e acusa o Governo de melhorar "artificialmente" o esforço orçamental. A Deloit vem dizer que o Orçamento é um documento sem grandes medidas e que assenta na crença. O Governo está a ensaiar uma defesa assente num pressuposto: a inscrição da reversão da austeridade como medida extraordinária, lê-se no Público, está baseada no facto de, quando as medidas foram aplicadas em 2011 e 2012, terem sido apresentadas como sendo temporárias. Assim, o carater temporário dessas medidas devia estar expresso nas contas.
A pressão é enorme e, dizia ontem Pacheco Pereira na Quadratura do Círculo, vai aumentar, até pelo jogo que será feito no âmbito da União Europeia a partir do que se considera ser a fragilidade inerente ao facto de o Governo ter o apoio do BE e do PCP. Há a expectativa de que a corda rompa, o que nos conduz à pescadinha de rabo na boca. Já se perguntou porque é que os governos parecem incapazes de resolver os problemas concretos das pessoas? Há quem explique esta situação com uma afirmação com a qual qualquer pessoa de bom senso, como diria o futuro ex-presidente da República, estará de acordo. Hoje é possível estar na política sem estar no poder. O verdadeiro poder pertence a quem controla a economia. E quando assim é, aproximamo-nos perigosamente do incontrolável caos na gestão da coisa pública. É uma teoria.
OUTRAS NOTÍCIAS
Está em curso uma greve convocada pelos sindicatos da Frente Comum, afetos à CGTP. Escolas e hospitais estão a ser os locais mais afetados nesta luta pela reposição imediata das 35 horas semanais de trabalho.
O IVA na restauração está de volta. A partir de 1 de julho regressa a aplicação da taxa de 13%, mas apenas para a comida. As bebidas continuarão a ser taxadas a 23%.
Hoje a partir do final da tarde vai começar a discutir-se o BANIF. O PS vai tomar posição pública e o Ministro das Finanças, Mário Centeno, será ouvido na Comissão de Orçamento e Finanças. Entretanto já se sabe que a Comissão Parlamentar de Inquérito será presidida pelo deputado do PCP António Filipe. Na Comissão estarão parlamentares como Mariana Mortágua, do BE, ou João Galamba, do PS, bem como João Almeida, do CDS. Ainda não se conhecem nomes do PSD.
Um conjunto de militantes do PS de Coimbra vão fazer um acordo com o Ministério Público para evitar a ida a julgamento com a acusação de crimes de falsificação de documentos no preenchimento de fichas na filiação de militantes. Em troca prestarão trabalho comunitário ou pagarão algumas verbas em dinheiro.
A estação de comboios de S. Bento, no Porto, vai acolher um hotel e áreas comerciais e culturais. O objetivo é a ocupação comercial de uma área de perto de 9 000 metros quadrados em plena baixa portuense.
Álvaro Siza está a construir uma torre de alto luxo em plena Manhattan, em Nova Iorque. É um prédio a partir de cujo topo se desfruta de uma paisagem única, equipado com solário, terraços privados, piscina, o último grito em spa e centro de "fitness", espaços para as crianças brincarem e outras mordomias. "Siza Matters", como diz o Architects Newspaper, que nos mostra uma primeira foto do edifício.
Pode a estrela de "Titanic" assumir a pele de um ícone bolchevique? Ver Leonardo di Caprio a encarnar no cinema a figura de Lenine não é algo passível de agradar aos comunistas russos, que já expressaram as suas reservas de forma clara. A polémica está lançada, o ator diz-se entusiasmado com a ideia desenvolvida pelos estúdios russos Lenfilm. O ator acrescentou que de igual modo ficaria deliciado se lhe entregassem o papel de Putin ou de Rasputine.
Blade Runner vai regressar com Harrison Ford, assegura a revista Esquire. Lançada em 1982, a fita teve então modestas receitas de bilheteira. Transformou-se, porém, em filme de culto. Surgem agora notícias de um Blade Runner 2, realizado, já não por Ridley Scott, que sempre colocou muitas reservas quanto a essa hipótese, mas pelo canadiano Denis Villeneuve.
Há sinais de mudança na Lego. Pela primeira vez na sua história, a companhia produtora das peças responsáveis pela consrução de muitos imaginários e incontáveis sonhos, admite criar uma figura que se movimentará em cadeira de rodas. Deverá acontecer no próximo Verão e é uma espécie de primeira e tímida resposta às insistentes críticas relativas à pouca diversidade revelada pela companhia.
Está em curso uma greve convocada pelos sindicatos da Frente Comum, afetos à CGTP. Escolas e hospitais estão a ser os locais mais afetados nesta luta pela reposição imediata das 35 horas semanais de trabalho.
O IVA na restauração está de volta. A partir de 1 de julho regressa a aplicação da taxa de 13%, mas apenas para a comida. As bebidas continuarão a ser taxadas a 23%.
Hoje a partir do final da tarde vai começar a discutir-se o BANIF. O PS vai tomar posição pública e o Ministro das Finanças, Mário Centeno, será ouvido na Comissão de Orçamento e Finanças. Entretanto já se sabe que a Comissão Parlamentar de Inquérito será presidida pelo deputado do PCP António Filipe. Na Comissão estarão parlamentares como Mariana Mortágua, do BE, ou João Galamba, do PS, bem como João Almeida, do CDS. Ainda não se conhecem nomes do PSD.
Um conjunto de militantes do PS de Coimbra vão fazer um acordo com o Ministério Público para evitar a ida a julgamento com a acusação de crimes de falsificação de documentos no preenchimento de fichas na filiação de militantes. Em troca prestarão trabalho comunitário ou pagarão algumas verbas em dinheiro.
A estação de comboios de S. Bento, no Porto, vai acolher um hotel e áreas comerciais e culturais. O objetivo é a ocupação comercial de uma área de perto de 9 000 metros quadrados em plena baixa portuense.
Álvaro Siza está a construir uma torre de alto luxo em plena Manhattan, em Nova Iorque. É um prédio a partir de cujo topo se desfruta de uma paisagem única, equipado com solário, terraços privados, piscina, o último grito em spa e centro de "fitness", espaços para as crianças brincarem e outras mordomias. "Siza Matters", como diz o Architects Newspaper, que nos mostra uma primeira foto do edifício.
Pode a estrela de "Titanic" assumir a pele de um ícone bolchevique? Ver Leonardo di Caprio a encarnar no cinema a figura de Lenine não é algo passível de agradar aos comunistas russos, que já expressaram as suas reservas de forma clara. A polémica está lançada, o ator diz-se entusiasmado com a ideia desenvolvida pelos estúdios russos Lenfilm. O ator acrescentou que de igual modo ficaria deliciado se lhe entregassem o papel de Putin ou de Rasputine.
Blade Runner vai regressar com Harrison Ford, assegura a revista Esquire. Lançada em 1982, a fita teve então modestas receitas de bilheteira. Transformou-se, porém, em filme de culto. Surgem agora notícias de um Blade Runner 2, realizado, já não por Ridley Scott, que sempre colocou muitas reservas quanto a essa hipótese, mas pelo canadiano Denis Villeneuve.
Há sinais de mudança na Lego. Pela primeira vez na sua história, a companhia produtora das peças responsáveis pela consrução de muitos imaginários e incontáveis sonhos, admite criar uma figura que se movimentará em cadeira de rodas. Deverá acontecer no próximo Verão e é uma espécie de primeira e tímida resposta às insistentes críticas relativas à pouca diversidade revelada pela companhia.
NÚMEROS
42,1
Custo em euros do trabalho/hora no setor privado na Dinamarca. Seguem-se a Bélgica (41,1) e Suécia (40,1).
24,6
Custo médio em euros do trabalho/hora na União Europeia. Imediatamente acima está o Reino Unido (25,1). Imediatamente abaixo está a Espanha (21).
12,7
Custo em euros do trabalho/hora no setor privado em Portugal. O último da lista dos 28 países da UE é a Hungria (7,9).
(Fonte: Institut für Makroökonomie und Konjunkturforschung, Dusseldorf)
42,1
Custo em euros do trabalho/hora no setor privado na Dinamarca. Seguem-se a Bélgica (41,1) e Suécia (40,1).
24,6
Custo médio em euros do trabalho/hora na União Europeia. Imediatamente acima está o Reino Unido (25,1). Imediatamente abaixo está a Espanha (21).
12,7
Custo em euros do trabalho/hora no setor privado em Portugal. O último da lista dos 28 países da UE é a Hungria (7,9).
(Fonte: Institut für Makroökonomie und Konjunkturforschung, Dusseldorf)
FRASES
"As democracias não vivem com medo, vivem com exigência", Catarina Martins, porta-voz do Bloco de Esquerda em entrevista à SIC
"O governo caiu num erro, devia ter sido mais cauteloso, sobretudo nas medidas tomadas ainda antes do Orçamento de Estado", Bagão Félix, ex-ministro das Finanças no DN
"É um sinal perigoso alguém sair da televisão para o Palácio de Belém sem um programa político" Jacinto Lucas Pires, escritor, em entrevista ao Jornal de Negócios
"Suceder a Cavaco Silva na presidência é como casar em segundas núpcias com a Tina Turner. Depois daquele primeiro marido, qualquer um é um príncipe", Ricardo Araújo Pereira, humorista
"As democracias não vivem com medo, vivem com exigência", Catarina Martins, porta-voz do Bloco de Esquerda em entrevista à SIC
"O governo caiu num erro, devia ter sido mais cauteloso, sobretudo nas medidas tomadas ainda antes do Orçamento de Estado", Bagão Félix, ex-ministro das Finanças no DN
"É um sinal perigoso alguém sair da televisão para o Palácio de Belém sem um programa político" Jacinto Lucas Pires, escritor, em entrevista ao Jornal de Negócios
"Suceder a Cavaco Silva na presidência é como casar em segundas núpcias com a Tina Turner. Depois daquele primeiro marido, qualquer um é um príncipe", Ricardo Araújo Pereira, humorista
O QUE ANDO A LER
Já aqui chamei a atenção para Teresa Veiga, em minha opinião uma das grandes contistas portuguesas da atualidade. Falei dela com entusiasmo a propósito de "Gente melancolicamente louca" e regresso para assinalar a minha mais recente leitura, há dias terminada. Trata-se de "Uma aventura secreta do Marquês de Bradomín", Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco.
Ainda nos livros, estou a beneficiar de elevadas doses de boa disposição, graças a um novo regresso ao imortal "Cadernos de Pickwick", de Charles Dickens, o livro que Fernando Pessoa lamentava já ter lido, por não poder voltar a lê-lo pela primeira vez, inserido na imperdível coleção de humor dirigida por Ricardo Araújo Pereira para a Tinta da China. Publicado em fascículos entre 1836 e 1837, constituiu um imediato êxito absoluto, ao ponto de fazerem já parte da lenda os relatos vários de pessoas cuja saúde terá tremelicado com tanto riso provocado pelas corrosivas peripécias vividas pelo clube de pensadores, chamemos-lhe assim, reunidos à volta do Sr. Pickwick. Numa Inglaterra vitoriana, Pickwick e os seus discípulos apresentam abundantes e mordazes críticas às quais ninguém parece escapar.
A pretexto de Dickens, um dos grandes escritores cuja atualidade, importância e qualidade têm vindo a ser redescobertas, iniciemos um percurso por outras pequenas leituras que me têm ocupado os dias, saídas de jornais e revistas de acesso fácil. Basta tocar na respetiva hiperligação. O Guardian publica um trabalho de Claire Tomalin, autora da muito aplaudida biografia "Charles Dickens: a Life". A escritora defende que a proliferação de bancos alimentares, a falta de apoio do Estado aos serviços destinados a crianças, o ataque ao Serviço Nacional de Saúde, a comercialização do ensino nas universidades, fazem de Dickens um autor mais essencial do que nunca, dado serem muitos destes temas aqueles que o escritor defendeu e pelos quais lutou.
A partir desta abordagem estabeleço a ponte com a entrevista à escritora indiana Arundhati Roy, autora do tocante "O Deus das pequenas coisas", publicada no suplemento Babelia do El País. O título diz ao que vem: "O capitalismo fracassará como o comunismo". Prognósticos antes do fim do jogo são arriscados, dada a notável capacidade de regeneração do sistema. A afirmação surge, porém, a propósito do último livro de Roy, "Espectros del capitalismo" na sua edição espanhola. Corajosa, com uma paixão ancorada no seu forte empenhamento cívico, a escritora, diz o jornal, socorre-se de uma infinidade de dados para denunciar "os desmandos dos poderosos contra os mais débeis".
É ainda e segregação, embora a um outro nível, que nos fala a fotógrafa Catherine Talese, filha do grande e inimitável jornalista e escritor Gay Talese, ao recuperar a vivência de Gordon Parks, a primeira fotógrafa negra da revista Life. Em 1956 foi enviada ao Alabama para fotografar o dia a dia de uma família negra num ambiente de profunda segregação. Sessenta anos depois, as fotos (aqui e aqui), algumas delas só recentemente conhecidas através da sua publicação em livro, continuam aí a gritar a dolorosa verdade dos momentos retratados. A história perdida de uma América segregada, com toda a sua emoção, é contada em detalhe pela revista Time.
Termino num outro registo, com a fantástica entrevista a Eduardo Lourenço conduzida pela Luciana Leiderfarb e publicada no Expresso a propósito da disponibilização pelo jornal do livro "Cultura - Tudo o que é preciso saber", do alemão Dietrich Schwanitz, dividido em seis volumes. Ainda não começou a ler? Então não sabe o que perde. Se ler, perceberá que aquele "Tudo" é relativo. Há sempre algo mais que podemos saber. Por isso remeto para um livro grátis, disponível no sítio do jornal El Mundo, intitulado "Obras fundamentales del arte del siglo XX". É, através da reprodução de 47 obras capazes de descrever o século, uma memorável viagem pela produção artística de um tempo feito de grandes mudanças.
E é tudo. Fico-me por aqui, na esperança de que lhe tenha feito bom proveito este café da manhã. Segunda-feira estará cá o Ricardo Costa para lhe dar conta das últimas da noite e do fim de semana. Ao longo do dia tem à sua disposição o sempre atualizado Expresso on line e, a partir das 18 horas, pode abrir o Expresso Diário. Tenha um bom dia.
Já aqui chamei a atenção para Teresa Veiga, em minha opinião uma das grandes contistas portuguesas da atualidade. Falei dela com entusiasmo a propósito de "Gente melancolicamente louca" e regresso para assinalar a minha mais recente leitura, há dias terminada. Trata-se de "Uma aventura secreta do Marquês de Bradomín", Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco.
Ainda nos livros, estou a beneficiar de elevadas doses de boa disposição, graças a um novo regresso ao imortal "Cadernos de Pickwick", de Charles Dickens, o livro que Fernando Pessoa lamentava já ter lido, por não poder voltar a lê-lo pela primeira vez, inserido na imperdível coleção de humor dirigida por Ricardo Araújo Pereira para a Tinta da China. Publicado em fascículos entre 1836 e 1837, constituiu um imediato êxito absoluto, ao ponto de fazerem já parte da lenda os relatos vários de pessoas cuja saúde terá tremelicado com tanto riso provocado pelas corrosivas peripécias vividas pelo clube de pensadores, chamemos-lhe assim, reunidos à volta do Sr. Pickwick. Numa Inglaterra vitoriana, Pickwick e os seus discípulos apresentam abundantes e mordazes críticas às quais ninguém parece escapar.
A pretexto de Dickens, um dos grandes escritores cuja atualidade, importância e qualidade têm vindo a ser redescobertas, iniciemos um percurso por outras pequenas leituras que me têm ocupado os dias, saídas de jornais e revistas de acesso fácil. Basta tocar na respetiva hiperligação. O Guardian publica um trabalho de Claire Tomalin, autora da muito aplaudida biografia "Charles Dickens: a Life". A escritora defende que a proliferação de bancos alimentares, a falta de apoio do Estado aos serviços destinados a crianças, o ataque ao Serviço Nacional de Saúde, a comercialização do ensino nas universidades, fazem de Dickens um autor mais essencial do que nunca, dado serem muitos destes temas aqueles que o escritor defendeu e pelos quais lutou.
A partir desta abordagem estabeleço a ponte com a entrevista à escritora indiana Arundhati Roy, autora do tocante "O Deus das pequenas coisas", publicada no suplemento Babelia do El País. O título diz ao que vem: "O capitalismo fracassará como o comunismo". Prognósticos antes do fim do jogo são arriscados, dada a notável capacidade de regeneração do sistema. A afirmação surge, porém, a propósito do último livro de Roy, "Espectros del capitalismo" na sua edição espanhola. Corajosa, com uma paixão ancorada no seu forte empenhamento cívico, a escritora, diz o jornal, socorre-se de uma infinidade de dados para denunciar "os desmandos dos poderosos contra os mais débeis".
É ainda e segregação, embora a um outro nível, que nos fala a fotógrafa Catherine Talese, filha do grande e inimitável jornalista e escritor Gay Talese, ao recuperar a vivência de Gordon Parks, a primeira fotógrafa negra da revista Life. Em 1956 foi enviada ao Alabama para fotografar o dia a dia de uma família negra num ambiente de profunda segregação. Sessenta anos depois, as fotos (aqui e aqui), algumas delas só recentemente conhecidas através da sua publicação em livro, continuam aí a gritar a dolorosa verdade dos momentos retratados. A história perdida de uma América segregada, com toda a sua emoção, é contada em detalhe pela revista Time.
Termino num outro registo, com a fantástica entrevista a Eduardo Lourenço conduzida pela Luciana Leiderfarb e publicada no Expresso a propósito da disponibilização pelo jornal do livro "Cultura - Tudo o que é preciso saber", do alemão Dietrich Schwanitz, dividido em seis volumes. Ainda não começou a ler? Então não sabe o que perde. Se ler, perceberá que aquele "Tudo" é relativo. Há sempre algo mais que podemos saber. Por isso remeto para um livro grátis, disponível no sítio do jornal El Mundo, intitulado "Obras fundamentales del arte del siglo XX". É, através da reprodução de 47 obras capazes de descrever o século, uma memorável viagem pela produção artística de um tempo feito de grandes mudanças.
E é tudo. Fico-me por aqui, na esperança de que lhe tenha feito bom proveito este café da manhã. Segunda-feira estará cá o Ricardo Costa para lhe dar conta das últimas da noite e do fim de semana. Ao longo do dia tem à sua disposição o sempre atualizado Expresso on line e, a partir das 18 horas, pode abrir o Expresso Diário. Tenha um bom dia.
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