Basta um pequeno esforço para reconstruir o discurso do dia.
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Queremos
acabar com as mudanças permanentes. Queremos garantir a estabilidade do
sistema educativo. As crianças estão no centro da nossa política
educativa. Os alunos são a prioridade. As pessoas estão à frente. Por
motivos ideológicos, o governo anterior mudou tudo sem rei nem roque. O
anterior ministro criou a instabilidade. O governo precedente provocou
danos quase irreparáveis. As políticas educativas anteriores, destinadas
a promover a desigualdade, deixaram sequelas irreversíveis. Em quatro
anos, a educação em Portugal recuou dez ou vinte. O governo anterior só
se interessava pela produção de elites. Foi instalada a desordem
educativa. As escolas estão destruídas.
Também não é preciso muito para prever o que se segue.
Vamos
nós agora garantir que não haverá mais danos. Vamos reparar as
sequelas. Vamos criar a estabilidade. Vamos garantir o primado dos
alunos. Vamos construir uma escola de sucesso. Vamos levar a cabo uma
política sensata, equilibrada, orientada pela ciência, dirigida para os
alunos, destinada a promover a igualdade e a democracia. E sobretudo
vamos reformar com a garantia da estabilidade. Para já, não haverá mais
trabalhos para casa no ensino básico, dado que os alunos eram obrigados a
trabalhar de mais. Depois de o Parlamento, numa votação inédita, ter
eliminado uns exames, vamos agora eliminar os restantes, que eram um
horrendo choque psicológico para os alunos. Vamos fazer provas de
aferição sensatas, sem ideologia, sem classificação e sem trauma para os
alunos. Não haverá mais exames, para já, no quarto e no sexto, mas sim
provas no segundo, no quinto e no oitavo, o que é evidentemente mais
democrático, mais pedagogicamente correcto e mais científico. Ámen.
Com
a ajuda de António Costa, o ministro Tiago Brandão Rodrigues teve, nas
televisões e no Parlamento, dois dias de glória. O ministro não ouviu
quem devia ter ouvido, não acatou conselhos sábios de prudência e
experiência e tomou medidas radicais a meio do ano lectivo. Com o
atrevimento próprio dos ignorantes, denunciou a ideologia dos outros,
declarando-se definitivamente científico e no cumprimento do interesse
dos alunos. O parecer do Conselho Nacional de Educação diz o contrário?
Aconselha várias medidas cautelares? É indiferente, “quem manda é o
governo”. A disciplina, o trabalho, o rigor e o método? São etiquetas
ideológicas que devemos afastar. O que importa é que a educação promova a
igualdade e não a “elitização”, termo inventado por um analfabeto e
adoptado pelo ministério. Parece ter ouvido cuidadosamente os dois
partidos de extrema-esquerda e a Fenprof: sente-se até nas palavras
utilizadas. Exprime-se numa língua de pedra, feita de lugares-comuns e
de expressões aparentemente científicas. Diz que o sistema anterior é
nocivo, provoca danos, criou traumas, promove a desigualdade, forma
elites e traduz a cultura da nota. Não ouve nem dialoga com os
parceiros, mas “informa-os das premissas”. Não ouviu os directores das
escolas não se sabe porquê, mas também não interessa, porque “quem
governa é o governo”. Reformou os exames e as avaliações a meio do ano, o
que para ele não tem qualquer espécie de importância. Não falou com
várias sociedades científicas, nem com organizações de pais, mas ouviu a
Fenprof, que já o felicitou.
E
assim recomeça mais um ciclo de reformas da educação. E desta maneira se
iniciam discussões litúrgicas e obsessivas sobre os exames e a
avaliação contínua, a aferição e a avaliação, a avaliação interna e a
externa, a avaliação formativa e a sumativa…
O pior é que já vimos isto tudo. Uma vez. Duas vezes. Tantas vezes. Vezes a mais!
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DN, 17 de Janeiro de 2016
via feedly...
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