segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

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Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Pedro Candeias
Por Pedro Candeias
Coordenador
8 de Fevereiro de 2016
Austeridade: As notícias sobre a minha morte eram orçamentalmente exageradas



Quando tudo passou a ser cor de rosa e não cor de laranja, e se abriu um novo ciclo, aparentemente folgado e não apertado, eis que a austeridade apareceu para nos lembrar que ninguém está a salvo. Porque enquanto houver buracos, bancos e banqueiros maltrapilhos, especulações, corrupções e esquemas que consigam derreter €40 mil milhões, ela vai continuar por aí. E não há ginásticas mentais ou orçamentais, nem animais mitológicos ou mesmo ornitorrincos (como se lê aqui e aqui), comunicados, linguagens técnicas e técnicas de retórica que a escondam. Nem à direita. Nem à esquerda. Nem ao centro.

E por isso, passado um fim de semana sobre a apresentação do Orçamento do Estado para 2016, as continhas que começam a ser feitas apresentam o resultado do costume: baralhar e voltar a dar. Por exemplo, o Público faz manchete com os condutores que "vão pagar mais 580 milhões este ano", o Jornal de Notícias titula que "as gorduras do Estado aumentam 912 milhões de euros", e o jornal i fala das despesas dos gabinetes governamentais que disparam para 58 milhões".

Resumindo as coisas, o Diário Económico diz que este é um Orçamento de compromisso, para tentar agarrar os parceiros da coligação e as exigências da CE, feito com "um pacote de austeridade com efeito incerto". Para o Jornal de Negócios, chegou o tempo da "nova austeridade".

Contas serão contas, o resto é comunicação e política. E políticos. Vamos a eles, que estiveram ativos durante o fim de semana.

Quem dá a mão a quem?
Ninguém pode acusar o PSD nem o CDS de andarem a pôr os pés pelas mãos - aliás, estão ambos de mãos dadas. Pedro Passos Coelho: "Este Orçamento dá com uma mão aquilo que tira a outros". Paulo Portas: " [Governo] dá com uma mão, mas com a outra lançou todos os impostos indiretos disponíveis e chegaram ao maior esforço fiscal que alguma vez o país tinha visto". A resposta do PS veio por João Galamba, que falou em intoxicação da oposição: "Ainda hoje, o PSD disse que é o orçamento do ‘toma lá dá cá'. É de facto, toma lá 1.400 milhões de euros e dá cá apenas 290 milhões."

São 40 ou 35 horas?
O João Vieira Pereira e o Pedro Santos Guerreiro, diretores do Expresso, perguntaram a Mário Centeno se a redução do horário de trabalho de 40 para 35 horas semanais na função pública tinha pernas para andar. E Centeno respondeu que não podia responder porque tinha de esperar para perceber se isso implicava o aumento das despesas. Mas houve quem decidisse não esperar. No dia seguinte, já com a entrevista do Expresso lida e digerida, António Costa, que é o chefe de Centeno, desdisse o seu ministro das finanças: não se preocupem, minhas gentes, o prometido é devido, as 35 horas de trabalho vão começar a 1 de julho. Deste ano. Então, em que é ficamos? questionaram ontem os sindicatos da Função Pública (Frente Comum e FESAP). Sobre isto, o DN de hoje esclarece que as "35 horas vão chegar de forma gradual e por negociação coletiva", citando uma fonte oficial do Ministério das Finanças.

E a TAP?
O Governo vai pagar €1,9 milhões para honrar o acordo 50/50 com a Atlantic Gateway (o Expresso explica-o, aqui) e os pontos de vista divergem. Para Paulo Portas, isto implica um "encargo superior" para o país e "é um convite à discórdia" quando as coisas apertarem. "Se houver estratégias diferentes, há um risco de impasse. Porque é que os privados terão aceitado?", disse Portas. E Pedro Marques, ministro do Planeamento e das Infraestruturas, argumentou que quem manda na TAP somos nós, o Estado.: "Todas as opções estratégicas para a TAP terão sempre uma palavra inquestionável e incontornável do Estado”. Nas páginas do Jornal de Negócios avança-se que Luís Patrão e Lacerda Machado "são duas das figuras que o Governo irá nomear para o conselho de administração da TAP". São homens próximos de António Costa,.


OUTRAS NOTÍCIAS
Lá fora,
É Carnaval e não há Carnaval como no Brasil, sobretudo no Rio de Janeiro. São multidões de foliões a celebrar a vida, que são dois dias, mesmo que os dias de hoje não estejam para brincadeiras. O "Guardian" relata que o brasileiro encara o Zika como um inimigo que dá tréguas durante os festejos. Depois, logo se vê.

Seguimos paara outros carnavais. No oitavo debate entre os candidatos Republicanos à nomeação para a eleição presidencial nos EUA, Marco Rubio foi atacado à esquerda e à direita (perdão, à direita e ainda mais à direita). À vez, Chris Christie, Donald Trump e Ted Cruz lançaram-se sobre Rubio, cujo 3º lugar no caucus de Iowa deixara os restantes de olho nele. Aqui estão os pontos de vista da Vox e do New York Times. E aqui está o momento-Trump da noite. Amanhã, há primárias em New Hampshire.

Na manhã de ontem, a Coreia do Norte lançou um foguetão de longo alcance, as Nações Unidas condenaram o dito, Pyongyang defendeu-se com "um programa espacial pacífico e independente", e a ONU garante que tudo não passa de um embuste. O que a Coreia do Norte quer, dizem os Estados Unidos e os seus aliados, é desenvolver a tecnologia para um míssil nuclear capaz de atingir o território norte-americano. Há um mês, convém lembrar, Pyongyang levou a cabo o seu quarto teste nuclear.

Quatro eram os "Beatles", o nome que foi estupidamente apropriado pelo quarteto de terroristas responsáveis pelos vídeos das decapitações que chocaram o mundo. O "Washington Post" garante que dois deles, Alexanda Kotey (ainda a monte) e Aine Davis (detido em novembro), foram identificados como fazendo parte desse grupo. Este é o perfil de Kotey, um tipo com raízes gregas e ganesas que se converteu ao Islão em Londres.

Na fronteira da Síria com a Turquia estão 35 mil pessoas a viver ao relento ou em tendas rudimentares encostadas aos portões. Procuram deixar Alepo, a guerra e a morte para trás. Os turcos fecharam recentemente as portas por razões de segurança, e vive-se um equilíbrio frágil naquela região, como relata o correspondente do Expresso. Há sírios, russos, curdos e jiadistas - e civis.

No desporto,
No Superbowl, a final da NFL, os Broncos bateram os Panthers. Foi uma história à americana: ganhou a equipa menos favorita mas que melhor defendia, e que tinha como líder um quarterback veterano (Peyton Manning) em fim de carreira. Houve anúncios para todos os gostos e um concerto digamos que... deprimente. Os Coldplay tanto quiseram tornar-se os U2 que se tornaram numa versão pirosa de Bono e companhia. O New York Times explica-nos porquê (tem a ver com as cores e a pose e a encenação), e porque é que Beyoncé e Bruno Mars tiveram de dar uma mãozinha a Chris Martin.

No nosso futebol, o FC Porto perdeu em casa contra o Arouca (1-2) e atrasou-se na corrida ao título. Ainda que Pinto da Costa tenha lavado as mãos como Pilatos no Porto Canal, está visto que não era só Lopetegui o mauzinho da fita. Já são três derrotas em 2016. Hoje, o Sporting joga em casa com o Rio Ave, e Jesus e os seus rapazes sabem que têm de ganhar (ou empatar, vá) para se manterem no primeiro lugar.

FRASES
"À medida que vamos conhecendo em detalhe o Orçamento do Estado parece-nos claro que ele fica para a história como o orçamento do toma lá, dá cá." Hugo sósia-de-Ted-Cruz Sousa, deputado do PSD, sobre o OE

"PSD e CDS deverão divergir no futuro", António Leitão Amaro, vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, na sua versão de social democracia sempre.

"No Médio Oriente andam a cortar a cabeça de cristãos. Não vemos isto acontecer desde os tempos medievais. Eu traria de voltar o waterboarding e outras coisas bem piores" Donald Trump, quem mais?.

O QUE ANDO A LER
Henry Chinaski é um traste, um sacana, um diletante, um preguiçoso crónico, ideologicamente alcoólico, frequentador de espaços pouco recomendáveis, pagante por sexo, provocador e arruaceiro, viajante errante, incapaz de manter um emprego sólido por mais do que duas noites - e não há como não gostar dele. Chinaski é a personagem central do "Factotum" de Charles Bukowski, um tipo que também teve a sua quota parte de loucuras etílicas, Por isso, muito de Henry é de Charles, e muito de Charles serviu, por exemplo, para compor o Hank Moody da série "Callifornication".

O "Factotum" é uma ode ao deixa-andar e à falta de ambição e objetivos, como podemos ver nestes excertos em que o humor é negro como a noite em que Chinaski vive os dias: “It was true that I didn’t have much ambition, but there ought to be a place for people without ambition, I mean a better place than the one usually reserved. How in the hell could a man enjoy being awakened at 6:30 a.m. by an alarm clock, leap out of bed, dress, force-feed, shit, piss, brush teeth and hair, and fight traffic to get to a place where essentially you made lots of money for somebody else and were asked to be grateful for the opportunity to do so?"; "Baby," I said, "I'm a genius but nobody knows it but me."

É um livro curto, duro, sarcástico e divertido que se lê bem num dia de Carnaval como o de amanhã, em que o Expresso Curto faz uma pausa para folias.

Tenha um bom dia. Ou 早上好, o equivalente em cantonês. Eu moro num lugar que é uma espécie de melting pot à portuguesa e espero ver gente com envelopes vermelhos, os hongbao, com dinheiro lá dentro, miúdos felizes da vida pelos presentes que os mais velhos lhes dão. Porque hoje começa o ano na China. O Ano do Macaco.
via expresso...

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