segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

sondagem [resultados]... a escolaridade até à maioridade...?

Resultados da Sondagem | Concorda com o ensino obrigatório até aos 18 anos de idade?

by Alexandre Henriques


Ficam os resultados e a análise de Paulo Guinote.
Sondagem Ensino Obrigatório
Votos: 2238

A escolaridade como truque político


Paulo GuinoteA escolaridade obrigatória de 12 anos foi aprovada no Parlamento com uma assinalável unanimidade demagógica. Como muitas outras medidas do período final dos governos Sócrates e dos tempos em que o PSD procurava o assalto ao poder, a sua motivação foi política e populista, mesmo se apareceram algumas vozes a defender a sua bondade educacional. Lembro-me que na altura fui dos que disse logo que era uma medida apressada, eleitoralista, falsamente unânime e que se destinava a elevar artificialmente a qualificação da população jovem, enquanto se adiava a sua entrada no mercado de trabalho e mantinha o desemprego jovem com estatísticas controladas.
A favor da escolaridade obrigatória de 12 anos ouvi argumentos teoricamente quase inatacáveis: aumentar a escolaridade é um bem em si mesmo e tal como aconteceu com a de 9 anos, em pouco tempo será conseguida; ou então que esta é a estratégia certa para qualificar a população jovem e a adequar melhor a um novo mundo laboral em mutação, que implica a aquisição de mais competências e conhecimentos, que o 9º ano já não garante.
Certo, certíssimo.
Mas alargar a escolaridade para os 12 anos é diferente de a alargar para o 12º ano. A menos que, como se passou, se comecem a traçar vias paralelas rápidas para muitos alunos que chegavam ao 9º ano já perto dos 18 anos e com o desejo de sair da escola permanecerem no sistema e assim se combaterem as chatas estatísticas do abandono escolar precoce. E foi assim que o que o PS concebeu, o PSD concretizou através do desígnio anunciado por Nuno Crato de se ter pelo menos metade dos alunos do Secundário em vias vocacionais ou profissionalizantes, seguindo-se a criação de cursos técnicos superiores de “banda curta” para compor todo o cenário.
Aquilo a que assistimos no presente é a efectiva implementação da escolaridade de 12 anos numa lógica de extensão do Ensino Básico em todas as suas qualidades e defeitos, esvaziando este nível de ensino, na maior parte dos casos, de um carácter mais exigente e pré-universitário, enquanto se simula uma massificação de um ensino profissionalizante destinado a preencher estágios no sector dos serviços e seguir para o desemprego pouco depois, por falta de credibilidade deste tipo de formação junto dos maiores empregadores nacionais (ou regionais).
O alargamento da escolaridade para 12 anos é já um sucesso estatístico, cuja paternidade suscita disputas e, ao contrário de outras, tem muitos candidatos a assumir a sua responsabilidade plena. Não estamos ainda em condições de perceber se o sucesso vai mais além. Acredito que uma auto-avaliação promovida ou encomendada pelo ME (feita pelo CNE ou uma qualquer equipa de especialistas convidados) conclua pela sua imensa bondade e pelo aumento da auto-estima dos alunos, como aconteceu com as Nova Oportunidades. Mas o que eu gostaria mesmo era de saber o impacto deste tipo de medida na empregabilidade e nível de remuneração dos jovens. Os dados de que dispomos até agora não parecem os mais animadores. Mas pode ser que a culpa seja apenas da crise.

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