Resultados da Sondagem | Concorda com o ensino obrigatório até aos 18 anos de idade?by Alexandre Henriques |
Ficam os resultados e a análise de Paulo Guinote.
A escolaridade como truque político
A
escolaridade obrigatória de 12 anos foi aprovada no Parlamento com uma
assinalável unanimidade demagógica. Como muitas outras medidas do
período final dos governos Sócrates e dos tempos em que o PSD procurava o
assalto ao poder, a sua motivação foi política e populista, mesmo se
apareceram algumas vozes a defender a sua bondade educacional. Lembro-me
que na altura fui dos que disse logo que era uma medida apressada,
eleitoralista, falsamente unânime e que se destinava a elevar
artificialmente a qualificação da população jovem, enquanto se adiava a
sua entrada no mercado de trabalho e mantinha o desemprego jovem com
estatísticas controladas.
A
favor da escolaridade obrigatória de 12 anos ouvi argumentos
teoricamente quase inatacáveis: aumentar a escolaridade é um bem em si
mesmo e tal como aconteceu com a de 9 anos, em pouco tempo será
conseguida; ou então que esta é a estratégia certa para qualificar a
população jovem e a adequar melhor a um novo mundo laboral em mutação,
que implica a aquisição de mais competências e conhecimentos, que o 9º
ano já não garante.
Certo, certíssimo.
Mas
alargar a escolaridade para os 12 anos é diferente de a alargar para o
12º ano. A menos que, como se passou, se comecem a traçar vias paralelas
rápidas para muitos alunos que chegavam ao 9º ano já perto dos 18 anos e
com o desejo de sair da escola permanecerem no sistema e assim se
combaterem as chatas estatísticas do abandono escolar precoce. E foi
assim que o que o PS concebeu, o PSD concretizou através do desígnio
anunciado por Nuno Crato de se ter pelo menos metade dos alunos do
Secundário em vias vocacionais ou profissionalizantes, seguindo-se a
criação de cursos técnicos superiores de “banda curta” para compor todo o
cenário.
Aquilo
a que assistimos no presente é a efectiva implementação da escolaridade
de 12 anos numa lógica de extensão do Ensino Básico em todas as suas
qualidades e defeitos, esvaziando este nível de ensino, na maior parte
dos casos, de um carácter mais exigente e pré-universitário, enquanto se
simula uma massificação de um ensino profissionalizante destinado a
preencher estágios no sector dos serviços e seguir para o desemprego
pouco depois, por falta de credibilidade deste tipo de formação junto
dos maiores empregadores nacionais (ou regionais).
O
alargamento da escolaridade para 12 anos é já um sucesso estatístico,
cuja paternidade suscita disputas e, ao contrário de outras, tem muitos
candidatos a assumir a sua responsabilidade plena. Não estamos ainda em
condições de perceber se o sucesso vai mais além. Acredito que uma
auto-avaliação promovida ou encomendada pelo ME (feita pelo CNE ou uma
qualquer equipa de especialistas convidados) conclua pela sua imensa
bondade e pelo aumento da auto-estima dos alunos, como aconteceu com as
Nova Oportunidades. Mas o que eu gostaria mesmo era de saber o impacto
deste tipo de medida na empregabilidade e nível de remuneração dos
jovens. Os dados de que dispomos até agora não parecem os mais
animadores. Mas pode ser que a culpa seja apenas da crise.
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